segunda-feira, 23 de junho de 2008

Lupa 3

Terceira edição da revista Lupa.
Lançada no inverno de 2007.

Veja fotos do lançamento - Clique aqui





P.S.: A segunda, terceira e quarta edição da revista Lupa estão disponíveis no ISSUU. Para visualizá-las, basta clicar em cima de uma das capas na lateral direita deste blog.

domingo, 22 de junho de 2008

Cubo Mágico


Um cheiro diferente no ar

Por Sumaia Árabe

_Carla! A mãe gritava. A menina estava atônita, parada na escada. Por um único momento parecia que tinha saído do seu próprio corpo, mas já estava ali novamente. Na segunda piscada de olhos, seus parentes estavam todos ali, para sua infelicidade. Alguns rindo, como seus primos, outros deslumbrados com o desabrochar da nova rosa da família, ou seria o murchar. Na segunda feira, o dia do colégio parecia nada tinha melhorado. Piorou quando viu ele, como sempre só a cumprimentava no início da manhã e depois não falava mais nada nem a olhava. Em poucos dias o rio dentro dela tinha secado, mas coisas estranhas passaram a acontecer.
_Toda vez que via ele sentia uma forte atração pelo seu cheiro, antes só a face de toques angelicais a interresava. O cheiro, o calor, a pele que ela tocava toda a vez que seus rostos se aproximavam. Na aula de matemática ele tinha sentado na sua frente, as intendentes contas só não se tornaram insuportáveis porque o cheiro dele vinha como o correr de um rio para o seu olfato, de repente todo o seu corpo era um rio que queria desaguar nele. A explosão iria acontecer, não podia mais agüentar e de um instante aconteceu, o calor dentro dela explodiu e a única coisa que conseguiu ouvir foi: Carla, aonde você vai correndo?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Passepartout

Infiel – A História da Mulher que Desafiou o Islã
de Ayaan Hirsi Ali

Por Ana Camila

_Dentro da programação do Fronteiras do Pensamento, série de conferências com intelectuais de todo o mundo que acontece simultaneamente em Porto Alegre e Salvador, está prevista uma conferência com Ayaan Hirsi Ali para o próximo dia 1º de julho (ainda não confirmada). Ayaan é uma somali que, após viver em uma série de países africanos e islâmicos, resolveu que não pertencia àquela cultura e se mudou para a Holanda, onde se tornou deputada, sempre lutando a favor dos direitos da mulher muçulmana.

_Ayaan, como se pode perceber, é polêmica. E em sua auto-biografia, Infiel, lançada em 2007, ela conta toda a história de sua vida, desde os cinco anos de idade até depois de ter praticamente sido obrigada a deixar a Holanda e se mudar pros Estados Unidos. A história de Ayaan é precisamente a história do que os ocidentais imaginam que seja a vida de toda e qualquer mulher da religião muçulmana – e Ayaan trabalha em cima disso. Sua trajetória não foi nada feliz, tampouco agradável, e ela nos conta isso com todos os detalhes, os detalhes que “todos querem ignorar”, como coloca a própria em determinado momento do seu relato.

_Em 500 páginas, o que se observa de Infiel é mais uma tentativa violenta de afronta à religião muçulmana que um relato honesto e ponderado. Para Ayaan, o islamismo é o mal de toda a humanidade, nenhuma mulher é feliz nem de longe e os homens são todos uns brutos e exploradores das mulheres (nos mais diversos sentidos). Com base nas suas experiências pessoais e na sua tentativa de resistir a um meio no qual nunca se sentiu em casa, Ayaan se dedica a demonizar a religião islâmica, e o faz com competência.

_Mas é difícil não observar o, muitas vezes, ingênuo posicionamento de Ayaan, principalmente considerando o seu óbvio deslumbramento ao chegar à Holanda, o “mundo ocidental e civilizado, onde as pessoas te respeitam pelo que você é”, como afirma a autora. O conflito “oriente x ocidente” a partir de Ayaan toma uma forma bastante infantil e maniqueísta, e em um dado momento fica complicado tomar partido de Ayaan, principalmente no capítulo em que ela relata como é maravilhoso viver num país ocidental, como tudo é lindo, como as pessoas são gentis, e até mesmo como o Deus deles é melhor!

_O problema de Infiel não é a sua tentativa de denunciar um fato que não precisa de denúncia no ocidente (público para o qual o livro está destinado), é a circunstância na qual a autora se encontra – livre das amarras religiosas, ela se sente livre como um pássaro, e apesar de clamar para si um senso crítico em relação à cultura muçulmana, não parece ter nenhum no que diz respeito à cultura ocidental (e não necessariamente cristã). Apesar de comovente, há uma grande dificuldade em comprar o relato de Ayaan como realidade, mas apenas como uma versão dela – e uma versão por demais temperada. Infiel é como aqueles filmes de terror que não somente insinuam a violência, mas a mostram em close-up. Porque, claro, você tem que se sentir mal.

_Ayaan Hirsi Ali hoje vive sendo ameaçada de morte por “fanáticos religiosos”, que não aceitam o seu posicionamento crítico e por vezes ofensivo em relação à religião islâmica. A autora se dedica a dar entrevistas e conferências pelo mundo, para alertá-lo sobre a vida à qual as mulheres muçulmanas são sujeitadas em seus países de origem. Segundo Ayaan, o ocidente tem que interferir nos países muçulmanos, impedir que as mulheres sejam tratadas como animais. Países como a Holanda têm que acabar com essa história de abrir colégios muçulmanos para os filhos das mulheres refugiadas, porque há de haver essa mescla, esse intercâmbio cultural entre crianças cristãs e muçulmanas. Para Ayaan, que hoje em dia se proclama atéia, a única razão de assumir essa vida agora arriscada é alertar o mundo da situação da mulher muçulmana.

_Principalmente após a morte do cineasta Theo Van Gogh, assassinado por homens muçulmanos em razão do filme “Submission”, dirigido por Theo e roteirizado por Ayaan, a autora tem ido a todas as redes de televisão de diversos países, pegar o gancho da tragédia para falar sobre a questão da mulher. “Submission” é uma provocação de Ayaan, um curta de dez minutos no qual se vê uma mulher muçulmana falando de sua vida, como é tratada por seu pai e outros membros da família, mas em um texto irônico e imagens sensuais do corpo dessa mulher. O vídeo seria o primeiro de três, mas com o assassinato de Theo o projeto teve fim.

Assista ao vídeo “Submission”:

_Vivendo cheia de guarda-costas por onde quer que vá, Ayaan continua sua luta em favor dos direitos das mulheres da sua ex-religião. Onde quer que vá recebe aplausos (dos ocidentais, claro), mas, em meio a tanta polêmica em suas declarações, vez ou outra alguém decide colocá-la contra a parede e contestar suas afirmações acerca da situação da mulher islâmica, dos países muçulmanos e do seu lugar de fala, sendo uma “ex-muçulmana” e atéia. Como no vídeo que segue abaixo:

http://youtube.com/watch?v=vg8AYs56RAY

_O próximo livro de Ayaan Hirsi Ali já se encontra em pré-venda nas principais livrarias do país. Trata-se de A Virgem na Jaula, uma coletânea de textos escritos pela autora que abordam a sua indignação com o modo como o ocidente trata o oriente. Ayaan acha que os países ocidentais têm de ser mais duros com os orientais. Será?



_A participação de Ayaan Hirsi Ali no Fronteiras do Pensamento em Salvador está prevista para o dia 1º de julho, às 20h no Teatro Castro Alves. A produção do evento ainda aguarda confirmação e maiores informações podem ser obtidas no site do Fronteiras.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Blog da Lupa vence no Expocom Nordeste 2008.

Vencemos !


Blog da revista Lupa conquista a primeira colocação na Expocom Nordeste 2008.

O evento ocorreu durante a etapa regional do Intercom, entre os dias 12 e 14 de Junho, este ano, na cidade de São Luís do Maranhão. Vencedor na categoria Áreas Emergentes - modalidade Processo Digital - o Blog da Lupa concorreu com o site Salada Eletrônica, desenvolvido por estudantes da Universidade do Rio Grande do Norte - UFRN.

O Blog da Lupa foi criado em outubro de 2007 pela equipe de assessoria da quarta edição da revista Lupa, uma publicação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Incialmente desenvolvido para divulgar a versão impressa na web, conforme o passar do tempo e o exercício e pesquisa sobre publicação, o blog tornou-se um produto jornalístico por si mesmo, veiculando reportagens, resenhas, críticas e vídeos produzidos por estudantes especificamente para o meio.


Parabéns equipe da revista Lupa pela conquista!

sábado, 14 de junho de 2008

Passepartout

Resmungos existenciais

Por Antonio Pita



_Ranzinza, mal humorada, crítica ... e muito fofa! Assim, a personagem Rabuga, uma menina gordinha, branquela e de cabelos vermelhos, tem conquistado muitos fãs com suas crises existenciais publicadas todas as terças-feiras no Caderno Dez! do Jornal A Tarde.


_Criação da estudante de psicologia da Ufba, Caroline Feitosa, a carismática resmungona nos lembra aqueles dias em que acordamos com o pé esquerdo, e todo o universo parece conspirar contra nós – o ônibus atrasa, o carro quebra, uma chuva cai repentinamente, o computador trava e todos os documentos se perdem, enfim.

_Tudo é motivo para a ruivinha resmungar, como se ela não estivesse adaptada par ao mundo. Ou será o mundo que não está adaptado a ela? “As idéias vêm de coisas bobas, como ficar dez minutos a mais no ponto de ônibus, e enquanto isso penso sobre como se perde tempo esperando… e daí penso em como eu também espero por mim, por certas mudanças… e pronto! Porque não fazer uma tira sobre esperar por si mesmo?”, explica a autora.



_Rabuga surgiu há pouco mais de um ano. No começo, ficou um pouco esquecida entre as questões existências de Caroline – achava que seus rabiscos não passavam de ‘bonequinhos de palito obesos’. “Mas eu percebi que uma boa tira não precisa ter o desenho perfeito. O importante é a idéia e a forma como ela se coloca no papel. A partir daí, comecei a desenhar, mesmo de um jeito torto e simples”.

_Os traços simples da artista já a levaram a realizar exposições e apresentações de trabalhos em diversas ocasiões, com Rabuga e outras obras e personagens que Caroline desenvolve. “Já tentei criar outros, como o moço cuja cabeça possui uma fissura que deixa certos conteúdos escaparem. Apresentei alguns trabalhos dele no Salão de Humor de Piracicaba, no ano passado”.

_Mas são as reclamações da ruivinha que fazem mais sucesso. Além do Caderno Dez!, que publica as tirinhas desde agosto de 2007, o portal Diálogos Universitários e o fotolog da personagem também trazem novas indagações de Rabuga.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Meio e Mensagem

Relíquias hi-tech da notícia

Por Amanda Luz

_Apesar do jornalismo ser uma atividade relativamente recente, já virou artigo de museu. Os fósseis e antigüidades comuns ao universo da museologia deram lugar à alta tecnologia no museu americano dedicado às notícias e ao jornalismo.

_Inaugurado em abril deste ano, em Washington D.C., o Newseum oferece uma experiência hi-tech e interativa aos visitantes em galerias que apresentam a história das notícias; a evolução da prática jornalística nos meios Internet, TV e rádio; primeira-páginas atualizadas de jornais ao redor do mundo; fotografias ganhadoras do Prêmio Pulitzer; notícias de fatos históricos como o 11 de setembro, queda do Muro de Berlim etc; dentre outras exibições. O visitante pode até filmar uma notícia, como um telejornalista.

Divulgação
_Localizado entre o Capitólio e a Casa Branca, o museu evidencia já na fachada, claro, a Primeira Emenda da Constituição Americana: aquela que garante a liberdade de imprensa, orgulho da democracia nacional. No interior, ao lado das galerias que exaltam a profissão, há ainda aquelas que apresentam algumas gafes e plágios jornalísticos.

_Para a construção de um prédio imponente e moderno, foram necessárias polpudas doações, oferecidas por empresas como New York Times, Time-Warner, NBC News, ABC News etc. Tudo devidamente registrado no website da instituição.

_Ao contrário dos museus vizinhos do Smithsonian Institute, que são gratuitos (e de qualidade, o que é importante), quem quiser visitar o Newseum tem que desembolsar entre $ 13 e $20.

Em memória aos colegas jornalistas

_Como americano adora um memorial, os jornalistas que morreram no exercício da profissão foram homenageados no Memorial dos Jornalistas, com seus nomes gravados num espaço especial. É possível, no site, visualizar os homenageados por nacionalidade. No link reservado ao Brasil, quatro páginas incluem nomes como Vladimir Herzog e Tim Lopes, dentre outros.

Passepartout

Para animar a festa!

Por Ive Deonísio

_Todo mundo tá cansado de saber que a cena alternativa de Salvador não tem muito para onde escapar: está restrita ao mesmo público e aos mesmos lugares, o que não significa a inexistência de coisas boas. Diferente dos menininhos que se reúnem pra fazer um som arranhado no pátio da faculdade sem ter pena dos transeuntes e nem um pingo de vergonha na própria cara, os integrantes da banda Os My Friends apresentam musicalidade elaborada.

_As influências consolidadas e a afinação interna refletem, diretamente, na proposta do conjunto, segundo os próprios, “é dar um toque ijexá, samba e rock com batida funk aos hits”. As músicas são trabalhadas para ganharem a cara do grupo. A pegada dançante de Jorge Ben e a inconfundível marcação funk de Tim Maia são facilmente diagnosticados no groove que deixa o público frenético nas apresentações.

_ Luciano, vocal do grupo, também integrante da banda de reggae Mosiah, diz que a clássica influência de Jorge Ben surgiu com a compra do vinil “A Tábua de Esmeraldas”, álbum de 1972, que custou inexpressivos 5 reais num sebo próximo ao Convento da Lapa, onde localizava-se a sua faculdade na época.

_Para conferir o som da banda legitimamente baianinha ouça: “Símbolo de Fé” na página dos caras.

_Veja (e ouça!) Dois Mundos:

terça-feira, 10 de junho de 2008

Cubo Mágico

Pensamentos ocultos de uma mulher

Por Sumaia Árabe

Primeira Parte
Tinha passado uma semana desde o susto que levara. Sabia que a partir de agora tudo iria mudar, assim falou. Mas ainda não entendia exatamente o que tinha acontecido, tudo ao seu redor parecia estar normal. Ela lembrava que a primeira coisa que tinha feito era verificar se tudo estava no lugar e aparentemente estavam.

Alguma coisa tinha mudado. Sabia pelo cheiro fétido de sangue ainda estava em suas mãos. Podia lavar uma, duas, três vezes ou até surrar a própria mão, o cheiro não saia. Estava todo lugar, mesmo depois de ter lavado os lençóis, mesmo não mancha nenhuma. O cheiro fétido continuava. O pior era saber que aquele sangue tinha saído do seu corpo. Tudo parecia estar igual, mas como conviver com aquele cheiro o resto da vida? Não sabia e sentia ânsia ao pensar. A mãe gritou da escada: “Desça! Todo mundo já está aqui.” Era o rotineiro almoço dos dias de domingo. Desceu as escadas. A família estava toda lá. Quando a mãe a viu, logo gritou: “Aí está ela, a mais nova mocinha da casa!”

Não sabia o que era mais forte o ódio ou a vergonha que sentira. Por um momento fechou os olhos, quando abriu a sala estava cheia de sangue. Não seu sangue fétido, era sangue dos outros

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Passepartout

Phil Ochs

por Ana Camila

_Lá pelos idos dos anos 60 nos Estados Unidos, havia um intenso movimento cultural anti-guerra, mais expressivo através da música. Na ocasião, a guerra que todos queriam que acabasse era a talvez mais sem-noção guerra de todos os tempos, a do Vietnã. Entre os músicos que dedicavam suas carreiras a fazer campanha para que os Estados Unidos deixassem o Vietnã em paz, estava o jovem folk singer Phil Ochs.

_Nascido em El Paso, Texas, em 1940, Ochs foi um inquieto crítico dos Estados Unidos que, por sua vez, era a paixão da sua vida. Um “patriota social-democrata de esquerda”, como gostava de se descrever, Ochs não se conformava com os rumos que os Estados Unidos estavam tomando em questões econômicas e sociais. Quando da Guerra do Vietnã, Phil Ochs já havia traçado o seu caminho: precisava tentar acordar o povo americano e todos os que conseguisse atingir em qualquer lugar do mundo, alertá-los sobre as contradições, os abusos, as injustiças e desigualdades dessa nação que se julgava um exemplo de liberdade a ser seguido. E seu único instrumento era a sua música. Desde pequeno aprendeu a tocar alguns instrumentos em casa, e era em casa que ouvia muita música clássica e country. Hank Williams Sr. e Johnny Cash eram seus heróis.

_Phil Ochs se mudou muitas vezes durante a sua vida, conseqüência de uma família inconstante e cheia de problemas. Foi na universidade de jornalismo, em Ohio, que Ochs passou a se interessar ainda mais por temas políticos, principalmente pela revolução cubana de Fidel. Ochs criou um jornal underground chamado “The Word”, ao mesmo tempo em que se familiarizava com a música folk americana, por influência de Jim Glover, um colega da faculdade. Folk singers como Pete Seeger e Woody Guthrie passaram a ser referência musical de Ochs. Não demorou muito para ele e Glover começarem a tocar juntos em pequenos festivais de música folk em Ohio. Mas foi quando conheceu Bob Gibson, cantor folk já algo conhecido na época, que Ochs começou a se envolver profundamente com a música folk e a compor a partir da influência de Gibson.

_Então Ochs, decepcionado por não ser escolhido como editor do jornal da universidade, largou a faculdade de jornalismo em Ohio e se mudou pra Nova Iorque, onde teve a chance de tocar em muitos clubes de música folk. Seu repertório era composto por músicas com letras sobre guerra, liberdade de expressão, democracia, problemas das classes trabalhadoras, além de pequenas odes a líderes políticos ou eventos políticos considerados relevantes por Ochs. Lá pelos idos de 1963, Phil Ochs já era bastante conhecido do público, o que lhe abriu portas para cantar ao lado de figuras como Bob Dylan, Tom Paxton e Joan Baez. Ochs e Bob Dylan começariam nessa época uma turbulenta relação cheia de vaidades e afetações. Elogiavam-se publicamente, mas nos bastidores quase chegaram a sair no tapa.

_Phil Ochs gravou oito discos em toda sua carreira, e já nos dois primeiros pode-se conferir o melhor de suas canções e letras. Em All The News That’s Fit to Sing (1964), Ochs escolheu canções que representavam o melhor do seu folk, com letras poderosas como a de One More Parade [letra] [video], uma crítica aos soldados americanos, e Automation Song [letra], sua visão do trabalho braçal que tenta sobreviver à era industrial. O álbum seguinte, I Ain’t Marching Anymore (1965), Phil Ochs segue a mesma linha e traz músicas como Draft Dodger Rag [letra] [video], uma de suas muitas provocações à Guerra do Vietnã, que fez estrondoso sucesso na época. Esse disco também tem outras importantes canções que tornaram Ochs um grande cantor de protesto – como a faixa-título [letra] [video], um apelo aos soldados americanos para que não vão à guerra; também In The Heat of the Summer [letra], Days of Decision [letra] e Here’s to State of Mississippi [letra] [video] – todas tratando de temas como a classe trabalhadora explorada nos Estados Unidos, a posição que Ochs considera essencial que o cidadão americano tome diante dessas situações, e, no meio disso tudo, sua declaração de amor ao seu país.

_Phil Ochs in Concert (1966) é, talvez, um dos seus melhores discos. Já cheio de prestígio entre o círculo de música folk, Ochs pôde mostrar como é bem humorado, além de sarcástico, com a platéia que se delicia com sua performance. No In Concert, o cantor gravou suas mais fortes e impactantes canções, tais como Bracero [letra] [video], I’m Gonna Say it Now [letra] [video], Changes [letra] [video], Love Me, I’m a Liberal [letra] [video], Cops of the World [letra] [video] e Ringing of Revolution [letra]. Pelos títulos pode-se ter uma idéia do que se tratam, mas é interessante ressaltar o modo como Ochs muitas vezes se coloca na voz daqueles que critica, como em Cops of the World, uma ironia aos policiais americanos e seus modos de atuação. Bracero é também outra canção de cunho irônico e ao mesmo tempo melancólico, sobre o modo como os imigrantes mexicanos são iludidos pelas oportunidades de trabalho em terras estadunidenses.

_Mas nem só de protestos viveu Phil Ochs. Com sua mente sempre atormentada, o cantor era dotado de uma personalidade extremista, com variações de humor com as quais poucos sabiam lidar. O álcool foi seu companheiro por toda a vida, assim como a depressão, que parece ter vindo da família. Ochs era um jovem inconformado com qualquer tipo de injustiça – ou o que ele considerava injustiça – e isso também estava nas suas letras e se revelava no seu comportamento explosivo e difícil. Na canção Outside Of A Small Circle Of Friends [letra] [video], Ochs faz uma crítica à apatia da sociedade ao seu redor, e seu tom é de tristeza, mais que de raiva. Em Chords of Fame [letra] [video] o cantor mostra seu lado mais divertido ao falar das armadilhas da fama. Temas mais intimistas aparecem nas canções Changes, As I Walk Alone [letra], Cross My Heart [letra] e When I’m Gone [letra], esta última uma bonita declaração de amor à vida.

Video-homenagem a Phil Ochs no Youtube, ao som de When I'm Gone

_A partir de 1967, os discos de Phil Ochs mudaram de estilo. Já não se tratava de simples músicas folk somente com voz e violão, mas toda uma produção musical com cordas e orquestra, o que não foi exatamente bem visto pela crítica e nem pelo público. Mesmo com mudanças na produção, Ochs não deixou de falar dos temas que lhe inquietavam, e a força de suas letras aumentava com o passar do tempo. Mas a falta de crédito por parte do público e a apatia em relação ao seu trabalho o deixaram depressivo e desesperançoso. Na capa do disco Rehearsals for Retirement (1969), provavelmente o disco mais baixo-astral do cantor e, ironicamente, o seu último, pode-se ver uma perturbadora foto de uma lápide com a data de seu nascimento e morte, abrindo alas para canções como I Kill Therefore I Am [letra] [video] (mais uma crítica aos soldados americanos), My Life [letra] (um triste olhar sobre as mudanças na sua vida depois de muitos anos), The Scorpion Departs but Never Returns [letra] (talvez sua única letra de auto-compaixão, ao lado de One-Way Ticket Home [letra]), e a própria faixa-título [letra], uma canção de despedida.

_Mesmo tentando voltar aos trilhos nos anos 70, Phil Ochs estava demasiado chateado com o não-reconhecimento do seu trabalho, e enquanto fazia shows por todos os lugares que passava (muitos deles imortalizados em gravações post-mortem), o álcool e as pílulas pareciam ser as únicas coisas que consumia diariamente. Apesar do comportamento maníaco-depressivo, aliado ao alcoolismo e a falta de motivação, Ochs continuou tocando tanto quanto podia, especialmente suas famosas músicas de protesto e anti-guerra. Nesse tempo, fez parcerias com Victor Jara, Joni Mitchell, James Taylor e Stevie Wonder, além de ser pessoalmente convidado por John Lennon para participar de um evento beneficente em 1971. Apesar de seu comportamento auto-destrutivo, Phil Ochs ganhava cada dia mais o respeito de cantores ao redor do mundo, e muitos o convidavam para duetos, assim como prestaram bonitas homenagens a sua obra anos depois.

_Phil Ochs viveu para ver o final da Guerra do Vietnã, em 1975, guerra esta que lhe inspirou suas mais veementes canções de protesto, algumas que chegaram a virar ícones da cultura folk, como The War is Over [letra], que Ochs cantou pela última vez logo após o fim da guerra, para celebrá-lo. Mas precisamente um ano depois o cantor decidiu tirar a própria vida, e se enforcou na sua casa em Nova Iorque. Ochs pareceu ter esperado tranquilamente pelo fim da guerra, talvez por fazê-lo sentir que seus apelos e suas mensagens através da sua música fizeram alguma diferença.

_E não há dúvidas, hoje, de que, sim, fizeram. Ochs nunca se rendeu às armadilhas do Estado – este que o considerava um inimigo, apesar de ele nunca ter infringido uma lei sequer na vida. O que Ochs procurou fazer durante toda a sua carreira foi usar seu talento para a música, seu bom humor e sarcasmo, sua sensibilidade e criticismo para fazer as pessoas pensarem ao mesmo tempo em que lhes oferecia uma música prazerosa. Com sua “voz mal-assombrada”, como ficou conhecida nos Estados Unidos, Ochs tinha um modo de cantar atraente e, ao mesmo tempo, inquisidor, e suas músicas nada significavam sem suas letras, e vice-versa. O equilíbrio, a força e a grandiosidade de suas canções são até hoje reverenciadas por um público que lhe permanece fiel, e por novas gerações de jovens e artistas, que fazem questão de seguir espalhando as mensagens de Ochs por todos os lados.

Links relacionados:

Phil Ochs no Wikipédia

Página web tributo a Phil Ochs (possui o mais completo material sobre o cantor na internet)

Phil Ochs no MySpace

Phil Ochs no Last.Fm

sábado, 7 de junho de 2008

Circo Urbano

Desbravando Moreré, a Polinésia Baiana

Por Ive Deonísio


_Moreré é um pedacinho de paraíso no litoral baiano. Praia deserta, vegetação virgem, mar azulzinho, quase a ilha do seriado Lost. No local não entram carros. Os percursos são feitos a trator ou a pé. O povoado também não possui atracadouro.

_Acontece que o difícil acesso à Ilha de Tinharé, onde se localiza o vila de Moreré, não impediu a invasão da modernidade ao local. Os mochileiros, neo- hippies e velejadores desavisados podem se assustar com a novidade, mas o tiopês, linguagem típica do universo internético, é fluente no povoado. Lá, moradores falam e até escrevem no dialeto que agora é a modinha do orkut, msn, fóruns e lista de discussão.

_Confira os registros desta repórter que vos fala:
O nome do vilarejo vem do tupi e significa "acará-disco", nome de um peixe.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Passepartout

"Na Natureza Selvagem", de Jon Kracauer


por Ana Camila

_O que leva um garoto de 23 anos a largar uma vida confortável e ir viver no meio da natureza, em terras inabitadas e selvagens? E que fascínio é esse que o mesmo garoto causa em cada um que ouve a história da sua trágica aventura, que culminou na sua morte? Inquietações desse tipo levaram o jornalista Jon Kracauer e o cineasta Sean Penn a documentar, de forma apaixonada, a trajetória de Chris McCandles, o jovem que abandonou a própria vida em busca de si mesmo. Na natureza selvagem.

_“Na Natureza Selvagem” é o nome do livro, publicado em 1996, de autoria de Kracauer – “Into the Wild”, no original. Encarregado de escrever um pequeno texto sobre a morte de Chris para o jornal no qual trabalhava, Kracauer simpatizou com a história do garoto e resolveu investigá-la melhor. O resultado foi um assumidamente parcial retrato de uma curta, porém intensa existência, onde problemas com a civilização e a vida em sociedade começaram a partir de desentendimentos com os pais em casa, movidos a muita literatura e viagens cross-country pelos Estados Unidos.

_Com “Na Natureza Selvagem”, Jon Kracauer se aventura pela primeira vez no jornalismo literário – e de longe se percebe que se trata de uma estréia. O autor não tem muito sucesso ao tentar recriar a história de Chris de modo “ficcional”, e suas descrições dos personagens e dos lugares pelos quais Chris passou são demasiado superficiais ou didáticas. Mas para Kracauer tratava-se de uma reflexão sobre quem de verdade somos e o que estamos fazendo nos mundo, por nós mesmos e pelos outros.

_Chris MacCandles, após se formar com honras na universidade, decidiu romper definitivamente com os pais e com a sociedade, e ir viver na natureza selvagem. Por meses pediu caronas e aceitou pequenos empregos para conseguir chegar ao Alasca, onde passaria a, segundo o próprio, “viver da terra por alguns meses”. O que conseguiu, não fosse o despreparo para lidar com a falta de comida, o que o levou a comer plantas silvestres venenosas e, em pouquíssimo tempo, à morte por inanição.

_Na época da tragédia (agosto de 1992), muitos se solidarizaram com o rapaz, atribuindo-lhe coragem, força e determinação, enquanto outros não perdoaram sua falta de preparo e de informações básicas. Jon Kracauer não fez parte de nenhum desses dois grupos, na verdade. Seu relato em “Na Natureza Selvagem” é uma tentativa de se aproximar de um jovem com o qual muito se identificava – Kracauer, inclusive, dedica dois capítulos do seu livro para falar de si mesmo, relacionando-se a Chris. E essa aproximação se dá com muita delicadeza, mas também com um tom comovente, ainda que muitas vezes duro. Kracauer está ao lado de Chris todo o tempo, mas não deixa escapar suas contradições, seu modo muitas vezes adolescente de lidar com a família e sua tendência afetada ao intelectualismo. Não constrói um herói.

_Mas para Kracauer e os leitores do seu livro, ou mesmo os espectadores do filme homônimo de Sean Penn, lançado em 2007 e que acaba de chegar às locadoras, o que importa mesmo é a atenção e a compaixão do relato da vida de um menino de 23 anos que foi até o extremo para honrar seus ideais. Um outsider desde pequeno, desajustado e inconformado, Chris é tido por Kracauer e Sean Penn não como um fracassado e um suicida, mas como alguém que teve a coragem de não trair a si mesmo. Desse fascínio resultam um livro e um filme comoventes, sobre uma história que, no mínimo, deixa qualquer um desconfortável dentro da própria pele.

Confira abaixo o trailer de "Na Natureza Selvagem", de Sean Penn (Estados Unidos, 2007)


Circo Urbano

INTIMIDADE COM O ESPELHO

Por Anaísa Freitas e Monique Passos

_Perdendo a vergonha de ser vaidoso, o homem contemporâneo abandona a insegurança e não tem receio de incluir, em sua agenda, horários para tratamentos de beleza. Eles aderem ao uso de cosméticos, freqüentam clínicas de estética, praticam atividades físicas regularmente e cuidam da alimentação. O compromisso pessoal com uma boa aparência e a auto-estima elevada permitem que eles abandonem preconceitos como aquele que associa a vaidade masculina à tendência homossexual.
_No geral, os freqüentadores das clínicas de estética são empresários com mais de 35 anos, casados e com filhos, que incluem na rotina o hábito de consumo dos artigos de vestuário e de higiene pessoal, que realçam a beleza. Esse cuidado com o corpo é motivo de satisfação para as esposas, uma vez que, as mulheres admiram e incentivam o cuidado masculino, especialmente para o próximo dia 12 de Junho.

_No quesito cuidado estético, os homens visitam as clínicas em menor freqüência. Mas, a maior distinção entre os gêneros é a disciplina masculina. Eles seguem todas as orientações que são dadas após os procedimentos, ao contrário de algumas mulheres. Essa obediência, aliada ao potencial do metabolismo masculino, permitem que visualizem os resultados em menor tempo.
_Dados estatísticos revelam a tendência do homem em tornar-se mais delicado com o visual. A pesquisa do Ibope Mídia, divulgada em setembro de 2007, revela que os homens gastam 15% mais com produtos pessoais do que as mulheres. É a era dos neo-narcisistas, tão encantados com as chances de se verem no espelho cada dia mais jovens e belos.


O QUE ELES PROCURAM?

· Limpeza de Pele – Retirada de células mortas e desobstrução dos folículos.
· Massagem Relaxante - Com manobras suaves, ela auxilia no combate ao stress.
· Peeling - Descamações da pele em níveis: superficial, médio e profundo. O objetivo é induzir o corpo a produzir uma nova camada de pele.
· Reflexologia podal – Massagens nos pés, visando pressionar os pontos de ligação com demais órgãos
· Shiatsu - técnica de massagem japonesa em cima dos canais de energia do corpo (meridianos), assim equilibrando o fluxo da energia vital ("Ki"). é recomendada contra problemas de coluna e deficiência funcional de órgãos.


ONDE PROCURAM?


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Prova dos Nove

“Se eu posso adicionar bondade ao Youtube, então isso me deixa feliz”

Por Amanda Luz

_Ensinar é uma arte. Manter dezenas de crianças atentas à aula não é tarefa das mais fáceis. Longe de trazer manobras de programa de auditório para a sala de aula, Tony Dusko, 37 anos, resolveu usar seu talento artístico de uma outra forma para cativar a atenção dos seus alunos.

_O resultado do seu trabalho é o Notebook Babies, uma série de animações curtas, que tem feito sucesso entre todas as faixas etárias no Youtube. O professor americano ensina crianças a tomar conta dos animais e a fazer tarefa, por exemplo, de um jeito que só quem é criança -- ou entende muito bem delas -- consegue. A temática é universal, a linguagem é cativante, a animação é simples e bem-feita. A soma disso tudo fez com que os vídeos se tornassem uns dos mais vistos na Internet ao redor do mundo.

_Diretamente da Pensilvânia para a Lupa. Em entrevista por e-mail, o professor-artista conta porque largou a carreira na Microbiologia para dar aulas e como surgiu a idéia de criar os personagens bobinhos, mas que no fim fazem tudo certo, de Notebook Babies.

Blog da Lupa: Notebook Babies são personagens engraçados que ajudam as crianças a aprender valores, mas como crianças. Como foi que surgiu a idéia de trazer a animação pra sala de aula?

Tony Dusko: Se você assistir meu vídeo “Mr. Dusko” (No vídeo, ele conta que a idéia surgiu após as crianças fazerem certa confusão na fila do lanche. Desse episódio nasceu o primeiro personagem: um “sanduíche-de-queijo-quente”), você vê como eu comecei a usar a animação. Basicamente eu descobri que ela é uma ótima forma de animar qualquer aula e faz com que as crianças prestem atenção no que você irá ensinar. Eu amo mostrar os vídeos antes da aula, pra deixar eles mais interessados.

BL: Como suas animações tornaram as aulas mais interessantes?

TD: Meus alunos querem sempre que eu continue fazendo novos vídeos, então eu uso isso como recompensa após um bom trabalho deles.

BL: O que você considera como mais importante na sua vida de professor que antes você não tinha na vida de biólogo microbiologista?

TD: Cada dia é diferente, eu amo isso na rotina do professor. Nunca é entediante!

BL: Seus vídeos são sucesso hoje na Internet. Você esperava receber uma resposta tão positiva de tantos lugares ao redor do mundo?

TD: Não, não mesmo. Eu só pensei que algumas pessoas iriam ver e gostar deles, mas é muito legal poder compartilhar isso com tantas pessoas e ouvir comentários tão bacanas sobre meu trabalho.

BL: Você tem filhos?

TD: Não ainda.

BL: Seu trabalho, antes de tudo, ao tratar de temas infantis, usa uma linguagem universal que ultrapassa diferenças culturais. O que você recomendaria aos educadores, professores e pais, no Brasil?

TD: Eu acho que há muito conteúdo na TV e Internet que não é bom para crianças. Mas há também bom conteúdo feito por pessoas boas. Seja apenas cuidadoso para monitorar suas crianças quando eles estão no computador ou assistindo à TV. Tente aproximar elas do que é bom e afastar do que é ruim. Se eu posso adicionar um pouco de bondade ao Youtube, então isso me deixa feliz.

_Confira o vídeo “O que é um amigo?” (abaixo), campeão do Mobifest Toronto Film Festival, no Canadá, em 2007.



_Veja mais:

- Notebook Babies no Youtube
- Página pessoal de Tony Dusko
- Página do Notebook Babies

Impressões

A Gaiola

Foto: Mariana Reis Soneto do Pássaro

Amar um passarinho é coisa louca.
Gira livre na longa azul gaiola
que o peito me constringe, enquanto a pouca
liberdade de amar logo se evola.
(...)
Por mais que amor transite ou que se negue,
é canto (não é ave) sua essência.

CARLOS DRUMMOND de ANDRADE

Passepartout

Cinema Guerrilha


Por Ive Deonísio

_Dentre as 11 produções brasileiras escolhidas para participar da mostra Short Film Córner, em Cannes, havia um filhote baiano. 10 centavos (19 min, 2007), é a menina dos olhos do diretor César Fernando de Oliveira. A primeira produção em 35 mm do diretor de 28 anos, narra, com poesia, a história de um pequeno guardador de carros no bairro do Santo Antônio Além do Carmo. O garoto pobre enfrenta agruras para honrar a dívida de R$ 0,10.

_Antes de graduar-se em Cinema e Vídeo pela FTC em 2006, César Fernando de Oliveira cursou 1 ano e meio de Engenharia. Visionário, o futuro diretor já estava apostando no futuro. Ele queria mesmo era aprender a fazer contas para calcular quantas das moedinhas douradas eram necessárias para atingir R$ 100.000,00. Essa foi a quantia disponibilizada pelo Prêmio Braskem para realização do roteiro de curta-metragem “10 centavos”.

_De antemão ele me avisou que depois da indicação para Cannes as ações do seu tempo subiram de preço. Agora é taxa pra absolutamente tudo. Consegui um mega desconto, “só para amiga”, dez centavos a pergunta. Paguei com a minha moeda de R$0,50 (da fininha, modelo antigo), ainda tinha um plus: 1/6 de impostos. Ele também não quis parcelar, o esquema é : “não aceito fiado, favor não insistir”. Pois é companheiros, fiquei com 4 perguntinhas.

Trailer de 10 centavos:



Blog da Lupa: A fotografia do filme recebeu grandes elogios, os planos soaram milimetricamente pensados. A opção pela câmera subjetiva revelou uma leitura minimalista de fatos que acontecem cotidianamente. Dessa forma, o filme sugere sensações ao espectador. Quais sentimentos você pretendia despertar?

César Oliveira: A principal idéia era que a obra tivesse um olhar crítico, mas que não fosse panfletário. O tom humano, a sutileza e a poesia deveriam permeiar todo o filme. Uma das razões é que a câmera quase sempre está na altura dos atores, além da opção de mostrar o reflexo e não a imagem direta da baía de Todos os Santos. Foi evitado também imagens "pasteurizadas" da cidade, fomos em busca de elementos que estão no nosso dia a dia e quase não são vistos, como a roldana ou os cabos do plano inclinado. A primeira metáfora vem desde o roteiro literário: o filme começa no Carmo, próximo ao Pelourinho e termina no subúrbio ferroviário. Realmente a maioria dos nossos problemas sociais começaram desde a época da colonização.

B L – A equipe mantinha cerca de 30 pessoas entre atores e técnicos. Todos os veteranos eram atores, apesar de haver estreantes no elenco. A parte técnica, por sua vez, era composta por jovens, muitos trabalharam pela primeira vez numa produção em 35 mm. Por que a opção por tantas pessoas relativamente novas no universo do cinema trabalhando no set de 10 Centavos?

C O - A idéia de trabalhar com pessoas que ainda não haviam composto o set de um filme em 35mm era justamente inserir-las no mercado. São pessoas novas no ramo, mas isso não quer dizer que não são talentosas. Às vezes fica difícil começar sem uma primeira experiência, mesmo possuindo talento. 10 Centavos foi uma experiência maravilhosa nesse sentido para todos nós.

B L- O roteiro do curta foi baseado num sonho, o filme tem uma atmosfera onírica belíssima, a arte e técnica também foram elogiadas pela crítica especializada. O resultado do bom trabalho já foi comprovado: 10 Centavos participou de inúmeros festivais. Entre eles os internacionais: Bilbao - Espanha, Algarve - Portugal, além de ter sido um dos representantes brasileiros no Short Film Corner do Festival de Cannes na França. 10 centavos ainda pode realizar algum sonho seu?

C O:10 Centavos realizou um de meus grandes sonhos, que era dirigir um filme de ficção, finalizado em 35mm, com toda uma equipe e seus departamentos específicos, como direção de arte, direção de fotografia, o pessoal da produção, o técnico de som... Antes dele, somente havia realizado vídeos sem uma equipe especializada. O filme está indo agora para o festival Internacional de Shangai, na China, e o Festival de Filmes para a Juventude, na Coréia. Ou seja, além do ocidente ele também está sendo reconhecido no oriente. Está, literalmente, cruzando o mundo, acredito que todas essas conquistas são méritos de toda a equipe envolvida na produção do curta. Dessa forma ele está realizando os sonhos de muita gente.

B L: Como nada escapa à pesquisa do Blog da Lupa, descobrimos que além de ser diretor, você já andou atuando na indústria cinematográfica. Quais são os seus projetos futuros? Pretende dar seqüência à carreira de ator?

C O: Com certeza me sinto mais seguro atrás das câmeras, acho que sou meio canastrão como ator (risos). Tenho outro curta-metragem em mente, mas ainda em fase de projeto.


terça-feira, 3 de junho de 2008

Impressões

Presa?
Por Samuel R. Barros

As grades podem até limitar o corpo, mas jamais conseguirá aprisionar o espírito.