segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A menina do espelho

Miria Lima

Depois de "E agora José", o espelho reflete sombrio. A imagem não declama mais Drummond, reflete, na solidão de horas vazias, o impossibilismo que ele descreveu... A paixão pelos amigos, pela Lua, pelas pirâmides, paisagens: tudo perdido na menina do espelho, nua de presente. Parece estranho retroceder instantaneamente. Ter o passado de súbito de volta, implica sofrer, desejar que o tempo retorne - querer de mais!

O pensamento vago se apoia às conservações da memória, mas eis-la de volta com soco dos versos que sugerem mudança de destino - "se você gritasse, se você gemesse..." - refletindo entre tantos "se", se tantas coisas fossem contrárias ao que exatamente foram... Eis a lição de que não se deve condicionar o passado!

A imagem que por ventura tem reflexo seco obtem donativos dos olhos que lubrificam a querência de não ser um José, mesmo o estando sendo. E as lágrimas percorrem lugares inexploráveis pelos versos, porém, na observação de sua imagem, vislumbra-nos a vontade irrefreável de Ser. Se na vida há algo melhor para uma adequação ao mundo que a experiência de si conhecer, a menina do espelho não tem necessidade de descobrir.



3 comentários:

Anônimo disse...

Miria.

Você já leu "Mulher ao espelho" de Cecília Meireles? trabalha com essa perspectiva da introspecção, reflexão, auto-conhecimento. http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia230.html

Bom texto.

"E as lágrimas percorrem lugares inexploráveis pelos versos, porém, na observação de sua imagem, vislumbra-nos a vontade irrefreável de Ser." ... Esse trecho, especificamente, me chamou bastante atenção.

Quero ler mais textos seus em breve.

Abrç

Anônimo disse...

saludos para graciela

agustin

Marcelo Oliveira disse...

Muito bom!

Esta seção tem que continuar, com estes textos maravilhosos.

Abraço Miria e parabéns.