sábado, 27 de outubro de 2007

Passepartout

130 anos da Escola de Belas Artes da Bahia

A EBA revela sua identidade histórica, anseios e dificuldades ainda presentes em quase um século e meio de existência.

Nadja Alves e Louise Vitorino

Escola de Belas Artes - UFBA [fotos: Nadja Alves]

_ Para os desavisados, a Escola de Belas Artes da UFBA é uma velhinha que completa 130 anos no dia 17 de dezembro de 2007. Há um século e trinta anos atrás, uma “boa alma” decidiu presentear o então imperador Dom Pedro II, com nada mais do que uma escola de artes, cuja localidade era a própria casa do benemérito, Miguel Navarro y Cañizares.

_ A Escola de Belas Artes foi a segunda escola superior da Bahia e a segunda escola de arte do Brasil. Atualmente, a EBA ensina basicamente artes visuais e design, com cursos de licenciatura em desenho e plástica, superior em decoração e design com habilitação em programação visual. Na pós-graduação a pesquisa está voltada para o resgate das tradições, história da arte e o estudo dos processos criativos de artistas contemporâneos.

_A EBA tem grande importância para a arte no estado. Prova disso são os muitos artistas baianos que passaram pela escola e hoje são reconhecidos, tal como Juarez Paraíso, professor da instituição. Entretanto, segundo o estudante de artes plásticas Zé de Rocha, uma escola de artes não forma necessariamente artistas. “É como caçar diamante na chapada, poucos são os que realmente se destacam”, ressalta.


A EBA entre as três melhores escolas do país.


_ Apesar de todos os problemas enfrentados, seja pela falta de verba ou dificuldades em divulgação dos seus trabalhos, a EBA recebeu um grande presente: conseguiu ser indicada, junto com a USP e a UNICAMP, para o prêmio “As Melhores Universidades do país”, promovido pela Editora Abril e o Banco Real.

_A escola também foi convidada para levar a produção do curso de design para Saint-Etienne, na França, em novembro de 2008, onde participará de uma bienal num mega-galpão denominado de “Cidade do Design”, como forma de mostrar a produção dos países em desenvolvimento.

_O professor e coordenador do curso de design Alessandro Faria, fala com grande satisfação desse reconhecimento. “A produção da Escola está muito acima da média, eu tenho orgulho de fazer parte da Escola de Belas Artes”. Faria, acredita que um dos motivos para esse resultado é justamente o desejo de superação dos alunos devido à falta de ambientação adequada para as produções. “O que desestimula é a infra-estrutura e o que motiva são as dificuldades”, explica. Segundo o professor, se a escola suprisse todas as necessidades que os alunos carecem, talvez não tivesse produções de tanta excelência, “mas pagaria para ver”, acredita.

Comemoração ou reflexão?










Na foto, o aluno José Márcio Plácido e o professor Adalberto Alves

_ O clima de comemoração não é unânime na escola. O estudante José Márcio Plácido, que cursa o sexto semestre de artes visuais, faz uma ressalva ao fato de que o aniversário da escola não é um momento de comemoração e sim de reflexão: “Arte na cidade de Salvador é meio complicada, por não ser muito difundida, fica restrita a um grupo na cidade que está envolvido com seguimentos artísticos. A escola carece de divulgação para que fique em evidência”.

_ Em se tratando de divulgação, a EBA apresenta todos os problemas possíveis, devido a uma grande dificuldade em obter verba disponível na universidade para a divulgação dos seus trabalhos.

_ Entretanto, para o professor de Artes Visuais, Adalberto Alves, este não é o único problema. “Quando a gente vai comparar a Escola de Belas Artes com a Faculdade de Comunicação, de Teatro, Dança e Música, a gente nota que a EBA precisa realmente mostrar a sua cara. Aí já não é culpa somente do Estado, do governo e da Universidade, tanto o corpo docente quanto o discente têm uma parcela de culpa nisso”, ressalta. Alves, no entanto, é otimista: “creio que as coisas já estão melhorando”.

_O site está desatualizado há 5 anos, desde os festejos dos 125 anos da escola, deixando margens a questionamentos. Afinal, como pode uma escola que capacita estudantes para trabalharem na área de design não utilizar o espaço virtual como vitrine?

_O diretor da escola, Roaleno Costa, dá uma explicação sobre o fato revelando que a UFBA não garante a atualização do site e devido a problemas ocorridos na gestão anterior os alunos não quiseram se comprometer. Contudo, o professor Faria aponta para um novo momento, no qual já se tem previsto a construção de um site para a comemoração dos 130 anos, outro para o Epicentro, espaço onde os alunos produzem, e mais um para o curso de design, que existe na EBA há apenas 16 anos.

Venda do casarão.

_Segundo o diretor da Escola, Roaleno Costa, o projeto de venda do casarão consta no plano diretor do Reitor Naomar de Almeida Filho. Para Costa, “o que o Reitor pretende é um contra-senso”, afirma. A proposta não foi bem recebida pelo corpo docente da EBA, que se manifestou contra através da imprensa, o que causou um grande alvoroço na escola.

_ A análise da venda do casarão é, segundo o professor Adalberto Alves, “paradoxal”, pois, apesar da falta de verba e infra-estrutura, existe um sentimento de afeição dos alunos, professores e funcionários com o espaço, não só por conta da importância histórica, evidente na sua estrutura, como também pela própria efervescência cultural e artística da escola.

_ Para o professor Faria, a venda do casarão é uma discussão política que não vai agregar nada para a escola. “Não vão vender a escola. A comunidade não vai deixar. Não há a menor possibilidade. Fecha a questão. Até a casa cair nós vamos continuar aqui”, enfatiza.


_ Em resposta, o chefe de gabinete da Reitoria, Aurélio Lacerda alega que “tensões e polêmicas existem, mas nesse reitorado não há qualquer insistência em se alienar o espaço físico da EBA, essa é uma discussão antiga”. E complementa afirmando que “não existe nenhum projeto em curso, o que não significa que a comunidade não possa discutir sobre o assunto”, declara.


A EBA é antiga, não ultrapassada!

_ Por ser uma escola secular, cuja existência retrata as próprias transformações ocorridas no estado, a EBA está tentando se ajustar à pós-modernidade e a demanda local, começando pela reformulação curricular de todos os cursos.

_ 130 anos é uma idade significativa e não pode ser ignorada pela sociedade baiana. Ainda há muito o que ser superado e dificuldades sempre existirão. Contudo, é importante valorizar as demandas artísticas da cidade. Quem ingressa na dita “área cinco” tem um perfil diferenciado. Não é melhor nem pior, é apenas diferente. Nada melhor do que uma escola responsável em fomentar a arte, que contribua para a consolidação do cenário artístico da nossa cidade e do nosso país.

Estudante da EBA em processo criativo no ateliê da faculdade.


Uma Pincelada no Histórico da Escola.

_As primeiras décadas de existência da EBA descrevem uma fase heróica, quando as ameaças de extinção só foram dizimadas pelo esforço comum, pelas subvenções e graças ao empenho de artistas estrangeiros como: o escultor Joseph Gabrile Sentis, o pintor russo Maurice Grun e o escultor italiano Pascoale de Chirico, autor de inúmeros monumentos em praças públicas de Salvador, um deles é a famosíssima estátua de Castro Alves, um verdadeiro símbolo da nossa cidade.

_ Em 1948, de posse da sede própria, a Escola de Belas Artes incorporou-se à Universidade Federal da Bahia, que só foi possível através do comprometimento do reitor Edgard Santos. Ocupando somente em 1970, o atual Campus Canela, considerado um dos mais expressivos espaços universitários de identidade artística.



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"As caras da EBA"




4 comentários:

Anônimo disse...

Interessante.

Não sabia que a EBA era tão antiga. Bem informativo o texto.

Anônimo disse...

Linda EBA!

Anônimo disse...

Legal a matéria sobre a EBA,muito boa a iniciativa em se fazer uma matéria sobre escola de arte!

Anônimo disse...

Boa matéria, só acho q deveria ter sido publicada em dezembro!