“A retomada é um sinal de vitalidade, de vocação para a atividade”
Em entrevista à Lupa, Pola Ribeiro, cineasta e diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), fala de um novo momento na produção cinematográfica baiana e da finalização do primeiro filme que roteirizou e dirigiu, Jardim das Folhas Sagradas. Ele acredita que a Bahia vive um momento promissor, mas pondera que são necessárias ações que dêem sustentação a esse desenvolvimento.
Tem-se falado muito em uma "retomada" do cinema baiano. Qual a sua opinião a respeito, levando-se em consideração quantidade e qualidade das produções baianas?
_A retomada é um sinal de vitalidade, de vocação para a atividade. Temos vocação e pessoas interessadas. Mas as estruturas ainda precisam se consolidar. O que nos cabe agora é desenvolver as políticas que garantam a continuidade e o crescimento da atividade. Uma das formas de viabilizar isso é intensificar a aproximação entre o cinema e a tevê.
Quais elementos podem ter favorecido esta "retomada"?
_Um dado foi a conquista do edital estadual de longas, capitaneada pela ABCV, que, apesar de uma certa descontinuidade, gerou três longas que ajudaram a motivar novas gerações a participar do processo de produção profissional do audiovisual. Por outro lado, não podemos esquecer de outros importantes fatos de nosso passado recente, como 3 Histórias da Bahia, a Braskem, que incluiu o cinema em seu edital de estimulo à arte e revelou novos realizadores, os festivais e outros eventos que consolidaram um público relativamente numeroso, como o Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, o curso de cinema da FTC, que nos possibilita há alguns anos uma formação específica. Tudo isso tem permitido uma visão mais autêntica e ao mesmo tempo crítica própria da nossa retomada. No plano do Ministério da Cultura, destaco a política de Gilberto Gil e Orlando Senna, que foi e é de inclusão desde o primeiro mandato em todos os aspectos de um projeto de cinema nacional. E a Bahia, por ter uma vocação, pôde ser contemplada.
Quais as principais dificuldades no processo de produção de "Jardim das Folhas Sagradas" em relação ao contexto baiano?
_Jardim das Folhas Sagradas foi produzido fora do nosso edital estadual. É um filme que participou e teve seu orçamento construído por concursos e leis que estavam sendo acionados pela primeira vez no estado. A Lei do Audiovisual, a Lei Rouanet utilizada para a produção de um longa e o própria FazCultura. E, além disso, o tamanho da produção, genuinamente baiana e talvez a de maior porte já realizada aqui, com cenários, estúdios, um set que às vezes reuniu 200 pessoas e fortes articulações com a sociedade, como uma reconstituição da caminhada da consciência negra, em julho de 2006, no Curuzu, com a participação de diversas correntes do movimento negro, e ainda a nossa presença no Bom Juá, onde os moradores também participaram desde as filmagens à construção de cenários. Agora estou retomando o processo de finalização, do qual me afastei desde o início de 2007 por ter assumido a gestão da TV pública, o que acabou me absorvendo completamente.
Como está a finalização do longa? Há data prevista para estréia?
_Estamos na finalização da montagem e no processo de produção da trilha sonora. Quero lançá-lo no segundo semestre de 2008.
Qual a sua expectativa em relação à estréia do seu primeiro longa? Mais precisamente em relação à exibição do filme no circuito comercial e à aceitação do público?
_A expectativa é grande. Sou um comunicador, faço cinema para me expressar e com a consciência da expectativa que meu trabalho gera na cidade, no público, e, nesse caso, principalmente na comunidade negra, que, tanto no segmento religioso quanto no segmento político ou social, é parceira do filme. Estou convicto da necessidade de se tratar do tema da religiosidade afro dentro de Salvador. A estréia de um filme como “Povo de Santo” prova isso. Queremos desenvolver um trabalho profissional de divulgação e acesso para que Jardim das Folhas Sagradas esteja disponível. O meu desejo é viabilizar de todas as maneiras o contato do público com o filme.
Que fatores você apontaria como fundamentais para uma maior visibilidade do cinema baiano?
_O principal, como disse, é um trabalho de divulgação focado. Todo diretor,quando faz o filme, sabe, no fundo, para quem está falando. Então ele tem que buscar este público na hora de exibir. Tem que dizer às pessoas que está em cartaz e reservar recursos para que isso possa acontecer.
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