quarta-feira, 4 de junho de 2008

Passepartout

Cinema Guerrilha


Por Ive Deonísio

_Dentre as 11 produções brasileiras escolhidas para participar da mostra Short Film Córner, em Cannes, havia um filhote baiano. 10 centavos (19 min, 2007), é a menina dos olhos do diretor César Fernando de Oliveira. A primeira produção em 35 mm do diretor de 28 anos, narra, com poesia, a história de um pequeno guardador de carros no bairro do Santo Antônio Além do Carmo. O garoto pobre enfrenta agruras para honrar a dívida de R$ 0,10.

_Antes de graduar-se em Cinema e Vídeo pela FTC em 2006, César Fernando de Oliveira cursou 1 ano e meio de Engenharia. Visionário, o futuro diretor já estava apostando no futuro. Ele queria mesmo era aprender a fazer contas para calcular quantas das moedinhas douradas eram necessárias para atingir R$ 100.000,00. Essa foi a quantia disponibilizada pelo Prêmio Braskem para realização do roteiro de curta-metragem “10 centavos”.

_De antemão ele me avisou que depois da indicação para Cannes as ações do seu tempo subiram de preço. Agora é taxa pra absolutamente tudo. Consegui um mega desconto, “só para amiga”, dez centavos a pergunta. Paguei com a minha moeda de R$0,50 (da fininha, modelo antigo), ainda tinha um plus: 1/6 de impostos. Ele também não quis parcelar, o esquema é : “não aceito fiado, favor não insistir”. Pois é companheiros, fiquei com 4 perguntinhas.

Trailer de 10 centavos:



Blog da Lupa: A fotografia do filme recebeu grandes elogios, os planos soaram milimetricamente pensados. A opção pela câmera subjetiva revelou uma leitura minimalista de fatos que acontecem cotidianamente. Dessa forma, o filme sugere sensações ao espectador. Quais sentimentos você pretendia despertar?

César Oliveira: A principal idéia era que a obra tivesse um olhar crítico, mas que não fosse panfletário. O tom humano, a sutileza e a poesia deveriam permeiar todo o filme. Uma das razões é que a câmera quase sempre está na altura dos atores, além da opção de mostrar o reflexo e não a imagem direta da baía de Todos os Santos. Foi evitado também imagens "pasteurizadas" da cidade, fomos em busca de elementos que estão no nosso dia a dia e quase não são vistos, como a roldana ou os cabos do plano inclinado. A primeira metáfora vem desde o roteiro literário: o filme começa no Carmo, próximo ao Pelourinho e termina no subúrbio ferroviário. Realmente a maioria dos nossos problemas sociais começaram desde a época da colonização.

B L – A equipe mantinha cerca de 30 pessoas entre atores e técnicos. Todos os veteranos eram atores, apesar de haver estreantes no elenco. A parte técnica, por sua vez, era composta por jovens, muitos trabalharam pela primeira vez numa produção em 35 mm. Por que a opção por tantas pessoas relativamente novas no universo do cinema trabalhando no set de 10 Centavos?

C O - A idéia de trabalhar com pessoas que ainda não haviam composto o set de um filme em 35mm era justamente inserir-las no mercado. São pessoas novas no ramo, mas isso não quer dizer que não são talentosas. Às vezes fica difícil começar sem uma primeira experiência, mesmo possuindo talento. 10 Centavos foi uma experiência maravilhosa nesse sentido para todos nós.

B L- O roteiro do curta foi baseado num sonho, o filme tem uma atmosfera onírica belíssima, a arte e técnica também foram elogiadas pela crítica especializada. O resultado do bom trabalho já foi comprovado: 10 Centavos participou de inúmeros festivais. Entre eles os internacionais: Bilbao - Espanha, Algarve - Portugal, além de ter sido um dos representantes brasileiros no Short Film Corner do Festival de Cannes na França. 10 centavos ainda pode realizar algum sonho seu?

C O:10 Centavos realizou um de meus grandes sonhos, que era dirigir um filme de ficção, finalizado em 35mm, com toda uma equipe e seus departamentos específicos, como direção de arte, direção de fotografia, o pessoal da produção, o técnico de som... Antes dele, somente havia realizado vídeos sem uma equipe especializada. O filme está indo agora para o festival Internacional de Shangai, na China, e o Festival de Filmes para a Juventude, na Coréia. Ou seja, além do ocidente ele também está sendo reconhecido no oriente. Está, literalmente, cruzando o mundo, acredito que todas essas conquistas são méritos de toda a equipe envolvida na produção do curta. Dessa forma ele está realizando os sonhos de muita gente.

B L: Como nada escapa à pesquisa do Blog da Lupa, descobrimos que além de ser diretor, você já andou atuando na indústria cinematográfica. Quais são os seus projetos futuros? Pretende dar seqüência à carreira de ator?

C O: Com certeza me sinto mais seguro atrás das câmeras, acho que sou meio canastrão como ator (risos). Tenho outro curta-metragem em mente, mas ainda em fase de projeto.


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