quarta-feira, 16 de julho de 2008

Passepartout

Quando música é pra ler


por Ana Camila

Se música fosse literatura, que histórias ela contaria? Foi a partir dessa pergunta que a dupla Danilo Corci e Ricardo Giassetti criou a Mojo Books, primeira editora de livros totalmente digital no Brasil. A idéia é simples e bem bacana. Sabe aquele disco que é o disco da sua vida? Sabe aquelas imagens que vêm na sua cabeça cada vez que o escuta? Ou ainda a história que aquele disco, por si só, conta com as suas músicas? Pois é, a Mojo Books publica histórias escritas com base em discos, por autores desconhecidos de todo o país.

Criada em 2006, a Mojo Books já publicou 69 livros, com a atual freqüência de um por semana. Mais voltado para uma cultura jovem, com muita referência pop, os livros publicados pela editora passam por discos do David Bowie, PJ Harvey, Nirvana, Ramones até Cartola, Chico Buarque, Pato Fu e Pitty. Álbuns clássicos também têm seus representantes literários, como é o caso do “Revolver”, dos Beatles, e do “American IV”, do Johnny Cash, entre algumas outras pérolas aqui e ali.

Disponibilizados em formato pdf, que você pode baixar após se inscrever no site, não se pode negar que os livros publicados pela Mojo Books oferecem muitas surpresas. Nem todos eles tratam de amores falidos ou do homem contemporâneo que já não vê sentido na vida, temas bastante queridos pela cultura pop. Há também histórias de terror, de ficção, amores tranqüilos... Como tudo na vida, há que garimpar, e o site da Mojo Books é cheio de atrativos, além de ser bastante auto-explicativo e visualmente bonito. Por lá você encontra Radiohead, The Doors, The Cure, Jimi Hendrix, Caetano Veloso, Pantera, Rita Lee, Ryan Adams, Morphine, Madonna... E a lista segue...

Os arquivos pdf contam com um apurado trabalho de diagramação visual, e, se você quiser imprimir, as folhas cabem exatamente numa capinha de cd, formando um encarte. Revelando uma particular atenção às possibilidades do meio digital, a equipe Mojo Books nada deixa a desejar em termos de criatividade visual e apuro técnico.

Books, singles e comics

Como a idéia é muito boa, a Mojo Books não parou só nos livros baseados em álbuns. Há também uma seção na qual os autores podem escrever contos ou pequenas narrativas sobre uma música somente. Em geral, a Mojo publica o livro do álbum de uma banda e o lança junto com uma história com base num single. Nessa última semana, o livro lançado foi “Without You I’m Nothing”, do Placebo, e o single “Every You Every Me”, cada um escrito por diferentes autores. O mais interessante é que você lê o conto na própria página da Mojo (não é necessário fazer download, como no caso dos livros), e ainda pode ouvir a música enquanto lê. Uma fitinha toca o single repetidamente, todo um detalhe visual e criativo oferecido pela editora.

Há também a seção Comix, que publica histórias em quadrinho com base em um disco ou uma música. Apesar de ser a parte menos produtiva do site (conta apenas com duas publicações), é talvez a mais criativa, principalmente num momento em que a produção de quadrinhos no Brasil está crescendo bastante.

Para ter acesso ao catálogo da Mojo Books, acesse o site da editora, se cadastre e baixe os livros que quiser. O site oferece ainda muitas opções de interatividade, como a possibilidade de avaliar os livros publicados, além de fazer comentários visíveis para todos os visitantes. E, claro, se você também quiser escrever a sua história, é só escrever e enviar, pelo site mesmo, aos editores, que garantem não ter preconceito com bandas ou músicas da época ou nacionalidade que forem. A única exigência é que a história seja boa, que não remeta muito obviamente ao disco – ou seja, que não faça citações diretas às letras, que não contenham traduções nem versões – e que não seja uma espécie de declaração de amor desenfreada. No mais, tudo é bem vindo na Mojo Books.

Claro que, aqui, o conceito de literatura é um pouco abrangente. Se a idéia de escrever uma história com base num disco que, de alguma forma, mexeu com a sua vida é uma idéia por demais tentadora, por outro lado é complicado lidar com a criatividade literária que se encontra além do mero entusiasmo. Há casos de livros publicados, como a série Fiona Apple (três livros, cada um dando conta de um dos discos da moça), que pareceu não entender muito bem o universo da cantora, ao colocá-la como uma maníaco-depressiva raivosa, ou como “Back to Black”, que lida de forma pouco criativa com o clichê da imagem da Amy Winehouse. De qualquer forma, a Mojo Books é um espaço aberto a aspirantes a escritores, sendo uma vitrine e, ao mesmo tempo, uma biblioteca inspirada no universo musical.

6 comentários:

Equipe Lupa disse...

Adorei a idéia do site, super criativo.

Ive

Unknown disse...

muito boa a dica.

Anônimo disse...

Oi, Ana Camila. Matérias bem escritas como a sua fazem com que dê mais vontade de estar sempre por aqui. Adorei a dica. Já entrei no site, fiz o cadastro e baixei alguns livros. Parabéns pela matéria. Abraços.

Anônimo disse...

Leio sempre seu blog e adorei a dica. Já me cadastrei e li alguns. Da série amores tranquilos curti muito o do Echo and The Bunnmen que empata na minha preferência com o do Violins.

Ana Camila disse...

Olá, xará! Obrigada por frequentar o blog, mas queria só ressaltar que este blog não é meu e sim da equipe da Revista Lupa, um publicação semestral da Faculdade de Comunicação da UFBA ;)
Também gostei muito do livro do Echo and the Bunnymen! Mas o meu preferido é o do Johnny Cash...

Anônimo disse...

Oi, Ana Camila. Quando você escreveu essa matéria sobre a MOJO BOOKS, eu me inscrevi no site. Gostei tanto de tudo o que vi por lá que resolvi participar. Mandei um texto a partir de uma música da Banda IRA! chamada "Envelheço na cidade". E, para minha (grata!) surpresa, esse texto foi selecionado. Está lá no site, aberto à votação. Estou feliz. E dedico isso, a você. =)

Beijos

http://www.mojobooks.com.br/mojo_inteira.php?idm=172

*