segunda-feira, 21 de julho de 2008

Passepartout

Primeiro dia de Seminário de Cinema promete semana interessante

por Ana Camila

O primeiro dia do IV Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que acontece em Salvador essa semana no Teatro Castro Alves, foi marcado por atrasos, interessantes discussões sobre temas batidos e algumas surpresas inusitadas.

Pela manhã

Marcada para ter início às dez da manhã, a primeira mesa só se apresentou às 10h40min, com a presença dos cineastas brasileiros Jorge Bodanzky e Joel Pizzini, e do professor e documentarista italiano Elio Rumma. Mediada pelo professor Francisco Serafim, esta primeira conferência do seminário teve como tema central a boa e velha discussão sobre os limites do real no cinema documentário. Se o tema é por demais batido no meio acadêmico, os palestrantes acabaram por dar uma atualizada interessante no tema, o que foi agradável e surpreendente.

Elio Rumma falou da importância de o público reconhecer o documentário não como um gênero à parte da ficção, mas como sendo a origem de todo o cinema, referindo-se aos filmes dos irmãos Lumière, considerados inventores do cinema, que nada mais eram que registros do cotidiano das pessoas. Rumma concluiu sua fala fazendo um convite aos jovens da platéia para que se deixassem envolver mais pela produção de filmes documentários e que voltassem seus olhares a esse tipo de filme com mais atenção e carinho.

Já o cineasta Jorge Bodansky preferiu falar do que chamou de “docdrama”, com base nos trabalhos que fez ao longo da sua carreira. Exibindo trechos de filmes seus, Bodansky discutiu os limites entre ficção e documentário em obras como “Iracema”, de 1974, que co-dirigiu com Orlando Senna. O autor exibiu trechos e defendeu a idéia de que esses limites são cada vez mais imprecisos, já que a ficção e a idéia de realidade que o documentário pressupõe dependem uma da outra, e cada vez mais.

Finalizando o debate, o cineasta Joel Pizzini trouxe uma abordagem mais teórica, e procurou discutir o que se entende por real no cinema e no documentário. Recorrendo à reflexões de Alberto Cavalcanti, Pizzini falou sobre como a noção que o público tem hoje do documentário se dá a partir de amarras de nomenclatura e de lógica jornalística televisiva. O cineasta, talvez demasiado eufórico, procurou abordar uma série de outros temas e abstrações, se perdendo um pouco e preocupando o mediador, já que não parecia querer parar de falar. Mas parece que a platéia gostou, já que a maior parte das perguntas se dirigiu a ele, que aproveitou para falar muito além do que as respostas demandavam.

Pela tarde

A segunda mesa (que também teve atraso de 40 minutos – será de propósito?) do dia teve como tema o uso da música no cinema. Tema de extrema importância, principalmente acadêmica, a mesa contou com o professor canadense Randolph Jordan, o compositor francês Silvain Vanot, o professor e compositor baiano Guilherme Maia e ninguém mais ninguém menos que... Carlinhos Brown.

A situação foi algo constrangedora. Jordan trouxe sua pesquisa sobre o uso da música nos filmes do cineasta Gus Van Sant. Vanot falou de sua experiência como compositor de trilhas sonoras e da sua pesquisa sobre a construção da tensão no final dos filmes a partir da música. Guilherme Maia também abordou as estratégias musicais e sonoras dos filmes para causar determinado efeito no espectador, usando exemplos de filmes de Sergio Leone. Mas Carlinhos Brown... Hummm, ele mesmo disse que não tinha um roteiro, e ficou sem graça quando pessoas se retiraram no meio da sua fala. No fim das contas, o que ele disse é que está aí para participar junto com todo mundo dessa “mentira que é o cinema”. Massa.

Pela noite


As noites do Seminário são cheias de filmes, que se dividem em mostras na Sala Principal do TCA e na Sala do Coro. Nessa primeira noite, a principal atração foi o filme Bamako, do cineasta africano Abderrahmane Sissako, uma deliciosa surpresa, que veio seguida da exibição do curta baiano A Cidade Cargueiro, de Aline Frey (fraquiiinho), e da animação em stop-motion Dossiê Bordosa, de César Cabral.

Fique por dentro da programação completa do seminário acessando o site do evento. Se não se inscreveu para assistir às mesas redondas, você pode acompanhá-las via internet, ao vivo, no mesmo site. E também pode comprar ingressos para os filmes em exibição, vendidos por 10 reais (inteira).

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