quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Meio e Mensagem

Ópaíó: a “baianidade” no plim-plim.
Por Paloma Ayres

A trindade cênica de “Ópaíó” (segundo item da Trilogia do Pelô) se concretizou no último dia 31 de outubro, quando estreou na Globo no formato de seriado, sempre exibido às sextas-feiras, após o Globo Repórter. Depois dos palcos, o espetáculo chegou às telas de cinema em 30 de março de 2007 e, com seis episódios gravados em película de 16 mm, “Ópaíó” tem direção geral de Monique Gardemberg (também diretora do filme), direção de núcleo de Guel Arraes e texto de Márcio Meirelles, Bando de Teatro Olodum, Mauro Lima e Jorge Furtado. Caminhando para o seu terceiro episódio, o seriado vem levando, aos lares brasileiros, o que é que a Bahia tem (ou dizem que tem): alegria, irreverência até nos momentos difíceis, deboche, junto com muito sotaque, música e uma sensualidade aparente, resultando na tão falada quanto discutida baianidade.

Os telespectadores não podem esperar muita novidade no seriado, que é praticamente uma amostra do que foi para o cinema. As opiniões se dividem entre “é a cara da Bahia” e “é a caricatura da Bahia”, restaurando os questionamentos sobre como a imagem do baiano é vista nos demais lugares do Brasil, principalmente quando estampada na telona e na telinha. Essa discussão é invariavelmente longa e por isso não será prolongada ainda mais por aqui, no sentido de ater-se somente ao seriado.

“Ópaíó” no cinema. Foto:André Gardemberg

Pelourinho, 1991, época da reforma do então governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães (reforma, aliás, que é abarcada na temática do espetáculo, mas mal pincelada no filme e, pelo visto será no seriado, no qual o foco continua sendo o cotidiano alegre e festeiro dos moradores do Pelô) é o cenário dessa trama de personagens. O Bando de Teatro Olodum está quase todo presente, não só os atuais membros do grupo, mas dos egressos dele, a exemplo de Lázaro Ramos (o protagonista Roque), Tânia Toko (Neusão) e Lázaro Machado (Pastor, que já causou polêmica no primeiro episódio, gerando críticas na comunidade protestante ao dar vida a um pastor ganancioso). Algumas participações especiais são esperadas, como João Miguel, Virgínia Cavendish, Nandda Costa e Preta Gil e também personagens novos, como Queixão, por Matheus Nachtergaele e Dandara, pela estreante na TV Aline Nepomuceno.

Vale ressaltar a substituição que fez uma relativa diferença: sai de cena o Boca, antagonista de Roque, vivido no filme por Wagner Moura e entra o Queixão, na mesma função, na pele de Matheus Nachtergaele. A diferença se faz na interpretação, enquanto que a sutil baianidade do primeiro deu lugar à uma carregada (para não dizer forçada) caracterização do segundo, não por Nachtergaele ser paulista, mas por não saber temperar, na medida certa, ao contrário de Moura (que é baiano, porém sabe, como poucos atores baianos, não estereotipar a já caricaturada figura baiana) a composição de um personagem baiano, aliás, repetindo o clichê já presente nas produções globais ambientadas na Bahia. Sem deixar de exibir uma versão caricaturada da “toda menina baiana” cantada por Gilberto Gil, Dandara vive o par romântico de Roque. Uma das mais importantes personagens do seriado, que comanda um dos núcleos da história, Neusão parece pouco à vontade no formato televisivo, já que poderia aproveitar ainda mais o destaque que lhe foi dado.

Do Bando, duas boas atuações: Érico Braz, que vive o taxista Reginaldo, mostra-se melhor entrosado com a linguagem global e Valdinéia Soriano, que mostra bom desempenho com Maria, a atormentada esposa de Reginaldo, que dá as suas escapadas com o travesti Yolanda (Lyu Arisson). Não dá para esquecer a dona do cortiço mais movimentado do Pelourinho, que reúne boa parte do elenco do seriado, Joana (Luciana Sousa), evangélica, mãe de Cosme e Damião – mostrando o já conhecido sincretismo religioso baiano – que não dá sossego aos seus inquilinos, com sua ferrenha defesa à “moral e aos bons costumes”, entretanto, assim como Neusão, Joana também não se sobressai tanto como deveria.

Sendo uma comédia musical, o seriado traz, através de Roque, esquetes musicais que passam pelo axé, reggae, pagode e brega. Exemplos disso são a versão pagodeada de “Tão Seu” (Samuel Rosa/Chico Amaral) e o clássico bregão “Vou tirar você deste lugar” (Odair José).

Roque (Lázaro Ramos) em cena. Foto:Thiago Teixeira/AE

No mais, “Ópaíó” trouxe de volta à televisão o universo soteropolitano/ baiano que, desde a minissérie “Os Pastores da Noite” (baseado na obra de Jorge Amado) não se fazia presente na Globo e, mais uma vez, explorando o estereótipo do baiano, construído ao longo dos anos na ótica amadiana-caymmista-velosista...e por aí vai. Resta saber se a corruptela de “Olhe para isso, olhe”, que não é corretamente pronunciada por muitos brasileiros além Bahia, cairá nas graças dos mesmos ou reforçar o preconceito que ainda resiste entre muitos deles, bem como se é assim mesmo que os baianos querem se ver representados no plim-plim, que sempre viu, como exótico e folcloresco, os moradores da cidade da Bahia.

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