domingo, 18 de novembro de 2007

Circo Urbano

A dificuldade em ser pedestre em Salvador

Maria Clara Lima


_As calçadas são estreitas e esburacadas. Como se não bastasse, obstáculos como carros estacionados, ambulantes e barracas de revista dividem o pequeno espaço dos passeios públicos com os pedestres de Salvador. O natural, nestes casos, é andar no asfalto. Assim faz diariamente Conceição Maria de Jesus, 48.

_Conceição é diarista em três casas, todas em bairros diferentes da cidade. No entanto, para ela, o pior trecho é onde mora, no Rio Vermelho. “Ali os carros ficam todos em cima da calçada. Aí desço para o asfalto e tenho que esperar o carro parar, senão não dá”. Conceição confessa que tem medo de ser atropelada – inclusive, quase já foi por uma moto. Qual seu prejuízo? A resposta é simples: “se eu for atropelada ali, quem é que está errada? Não sou eu?”.

_Atropelada ela não foi, mas a agente de viagem, Cristina Silva, 52, fraturou seu pulso e, há seis meses, ainda está com a mão direita praticamente imobilizada. Cristina caiu, ironicamente, em uma rampa que dá acesso à calçada ao sair de uma missa na Igreja Nossa Senhora da Luz, na Pituba. “Acho que tinha areia, mas, mesmo assim, tem que ter manutenção”. Ela conta que depois da queda, fez duas cirurgias e ficou três meses com a mão imobilizada, precisando de ajuda para realizar atividades rotineiras como tomar banho e comer.

_As melhoras começaram a aparecer há dois meses, quando começou um processo de reabilitação com a terapeuta de mão, Mirella Lima. Mirella tem uma média de dez pacientes regulares por conta de quedas nas calçadas. “Geralmente são paciente idosos que fraturam a mão e o pulso ao tentarem se apoiar, porque tropeçam em pedras soltas e buracos”. Segundo ela, o processo de reabilitação é lento e, os de fraturas mais graves, ficam com algumas limitações. Ainda assim, muitos conseguem recuperar os movimentos. “Mas estes ficam temerosos em sair de casa com medo de cair novamente”.

_Cristina ainda está na metade do processo. A esperança é de que recupere todos seus movimentos. Aborrecida com o incidente, não só reconhece a dificuldade para se andar nas calçadas de Salvador, como ainda envia um recado aos responsáveis. “Vou dar um exemplo de cada: na Barra, os carros estacionados; na Avenida Sete de Setembro, os camelôs e, na Pituba, onde moro, os buracos. A gente anda no asfalto em todos esses bairros. Para mim, o prefeito deve ter mais cuidado com a cidade”.

Responsabilidade

_De quem é a responsabilidade? Da prefeitura e dos órgãos locais. É o que diz a advogada Teresinha Alves. No entanto, ela explica que a manutenção de alguns trechos de calçadas – aqueles situados na frente de edificações – não são responsabilidade somente da prefeitura, mas também dos lojistas e moradores. Neste caso, cabe à Superintendência de Controle do Ordenamento e Uso do Solo (Sucom) fiscalizar, advertir e multar os responsáveis.

_Mas, segundo a advogada, a iniciativa, geralmente, parte da sociedade. “O que acontece muito são comunidades locais pleitearem, frente a prefeitura, o conserto dos passeios ou os lojistas requisitarem um espaço reservado para os camelôs”.

_No que diz respeito aos carros estacionados nas calçadas, para Teresinha, deve-se ter em conta a falta de educação no trânsito por parte dos condutores. “É proibido, todos sabem que é. A Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET) tem feito até um bom trabalho, multando estes carros, mas ela não pode estar em todos os lugares”.

_De qualquer modo, as providências tardam. E, para sentir esta dificuldade, não precisa ir além dos arredores da Ufba: basta andar um pouco nas calçadas da Ondina.

_Até o fechamento desta reportagem, nenhum representante da prefeitura foi encontrado para comentar o assunto.

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