terça-feira, 8 de abril de 2008

Passepartout

Tangos para ouvir

por Graciela Natansohn
graciela71@gmail.com


"Meus tangos são para a gente ouvir, não para dançar". Quem diz é Luis Borda, talentoso violonista e tangueiro que, acreditem, era um rockeiro cabeludo nos anos 70. "Ave rock" chamava-se a sua banda de rock progressivo, como era moda na época.

Mas quem pensa que tango é coisa de "gente grande" está completamente enganado. Quem tiver a sorte de dar um pulinho em Buenos Aires e perseguir a trilha do tango, vai se surpreender com a quantidade de jovens com dreads e cabelo rastafari atacando o bandoneon com garra punk. Qualquer distraído vai achar que se trata de um grupo de reagge. Nadica de nada! Puro tango, pura raça piazzolana.

Passar do rock para o tango não é coisa infrequente em terras vizinhas. O som tipicamente portenho rejuvenesce dia-a-dia. Luis Borda – que já deve andar pelos 40 e tantos – representa essa geração eclética, multifacética, que trilhou por diversos caminhos musicais e estacionou no tango, para bem de todos e felicidade geral dos ouvintes. A fabulosa destreza com o violão passa completamente desapercebida quando interpreta. Nisso reside seu talento: você esquece da tensão dos dedos sobre o instrumento e navega nos sons da sua música.

Faz 13 anos que Luis Borda mora em Munchen, Alemanha. Passou por Salvador em março passado, convidado pelo Instituto Cervantes para seu ciclo "Guitarríssimo". Antes disso, passou por Brasília, Curitiba, São Paulo. Herdeiro do legado de Piazzola, não apenas interpreta como é uns dos poucos músicos contemporâneos que compõe tangos. Tocou com gente de peso, como Rodolfo Mederos – quem passou pelo TCA em 1998 - e Dino Saluzzi . Com Mederos, tocou no São Paulo – Montreux Jazz Festival, em 78. "Foi inesquecível! – diz – "Toquei no mesmo cenário que 'monstros' como Joe Pass, Dexter Gordon, Betty Carter, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti".

Em conversa com Lupa, no Cervantes, confessou: "Não me preocupa o que funciona melhor no mercado (musical). Meu público não é parte de um mercado, não me preocupam quantos são. Basta que uma pessoa queira me ouvir". Quem quiser dançar tango, então, vai procurar em outra parte.

Orientacion Live


Luis Borda-Roman Bunka-Jost Hecker ao vivo.

Nenhum comentário: