Há 40 anos o mundo rejeitava o conservadorismo moral. Em maio de 2001 estudantes baianos exigiam um basta no conservadorismo político
Por Filipe Lucio Costa
_Era um dia como qualquer outro, não fosse a estranha movimentação de estudantes no centro de Salvador. Eles chegavam aos montes e das mais variadas partes da cidade. O objetivo era promover uma manifestação contra uma das personalidades mais emblemáticas e sombrias da política nacional. Bloqueando as ruas e entoando gritos de protesto, exigiam a cassação do senador baiano Antônio Carlos Magalhães, envolvido no escândalo da violação do painel eletrônico do senado.
_Temendo a reação da polícia militar, os estudantes haviam decidido seguir até a residência do senador, destino final da manifestação, através de um acesso localizado dentro da Universidade Federal da Bahia, uma área, de acordo com a lei, fora do controle das polícias estaduais. Às 9 horas da manhã, mais de seis mil estudantes estavam concentrados no Campo Grande, um bairro nobre e movimentado, palco das principais mobilizações populares da cidade. Em seguida os manifestantes iniciaram, como planejado, o trajeto por dentro da UFBA, mas logo foram surpreendidos por centenas de policiais militares que, violando a lei, coisa não muito rara, invadiram uma área federal.
_Sete anos depois o dezesseis de maio de 2001, ainda é lembrado pela demonstração de força e coragem do movimento estudantil e pela brutalidade da polícia que sob o comando do então governador carlista César Borges, protagonizou cenas semelhantes aos embates do período da ditadura militar. Armados com revólveres, cassetetes e gás lacrimogêneo, os policiais reprimiram duramente a manifestação e transformaram o campus da UFBA em uma zona de batalha. Em uma comunidade no Orkut, quem participou do protesto relembra os momentos de tensão vividos naquele dia. (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1593681). Um vídeo também ajuda a manter vivas na memória as cenas lamentáveis daquele dia: http://www.grifocomunicacao.com.br/imagens/choque.WMV .
_Temendo a reação da polícia militar, os estudantes haviam decidido seguir até a residência do senador, destino final da manifestação, através de um acesso localizado dentro da Universidade Federal da Bahia, uma área, de acordo com a lei, fora do controle das polícias estaduais. Às 9 horas da manhã, mais de seis mil estudantes estavam concentrados no Campo Grande, um bairro nobre e movimentado, palco das principais mobilizações populares da cidade. Em seguida os manifestantes iniciaram, como planejado, o trajeto por dentro da UFBA, mas logo foram surpreendidos por centenas de policiais militares que, violando a lei, coisa não muito rara, invadiram uma área federal.
_Sete anos depois o dezesseis de maio de 2001, ainda é lembrado pela demonstração de força e coragem do movimento estudantil e pela brutalidade da polícia que sob o comando do então governador carlista César Borges, protagonizou cenas semelhantes aos embates do período da ditadura militar. Armados com revólveres, cassetetes e gás lacrimogêneo, os policiais reprimiram duramente a manifestação e transformaram o campus da UFBA em uma zona de batalha. Em uma comunidade no Orkut, quem participou do protesto relembra os momentos de tensão vividos naquele dia. (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1593681). Um vídeo também ajuda a manter vivas na memória as cenas lamentáveis daquele dia: http://www.grifocomunicacao.com.br/imagens/choque.WMV .
Coronelismo - O episódio ilustra uma situação corriqueira no Nordeste, mas impensável e inadmissível em tempos de democracia. Políticos abusam do poder e reprimem qualquer iniciativa de oposição ao seu modo de governar, transformando ações como o protesto do dezesseis de maio, em atos de heroísmo passíveis de graves conseqüências que vão desde ameaças a assassinatos.
_A cena política da região, só agora, passa por profundas mudanças. Sai um sistema político anacrônico e perverso e ganha espaço um espírito democrático. As oligarquias, formadas por famílias que controlam o poder desde o período da ditadura militar e, após a reabertura democrática, conseguiram se manter no comando lançando mão de métodos nem sempre claros, perdem força. O grande representante desse tipo de governo era o político baiano Antônio Carlos Magalhães. ACM, até pouco tempo atrás, controlava grande parte da câmara dos deputados, a maioria das prefeituras da Bahia, inclusive da capital, o governo do estado e as duas vagas da Bahia no senado federal. Um poder que lhe conferia o status de grande líder político.
_ACM despertou paixões e ódios no estado. Assim como possuiu um eleitorado cativo, acumulou uma gama de opositores dispostos a romper, a qualquer custo, com sua hegemonia. Havia motivos para essa divisão. ACM foi um dos apoiadores do golpe militar de 1964 e sua vida política sofreu uma notável e curiosa ascensão durante o período ditatorial. Enquanto apoiava o regime repressor e autoritário, fazia um governo populista, aparentemente, voltado para os pobres, conquistando, assim, a simpatia e admiração desta parcela da população. Sob seu comando, Salvador transformou-se em canteiro de obras e importantes avenidas foram construídas.
_Nas eleições que antecederam sua morte, porém, o império carlista, desgastado e isolado politicamente, sofreu um duro golpe. A seqüência de 16 anos no comando do governo da Bahia foi interrompida pelo seu principal adversário, o candidato do PT, Jaques Wagner. O fim do casamento entre o povo baiano e ACM pegou todos de surpresa, não foi compreendido nem pelo próprio cabeça branca. Após perder a prefeitura de Salvador em 2004, ACM alimentava a esperança de mostrar sua força se mantendo no governo. Não conseguiu.
Realidade x ficção - A forte propaganda utilizada pelo candidato apoiado por ACM não foi suficiente para esconder os pífios indicadores econômicos e sociais. A Bahia apresenta após longos anos sob o comando do carlismo, o maior índice de analfabetos do país, de acordo com pesquisa, recentemente divulgada, feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). As más notícias não param aí: o estado é o quarto em número de pessoas que vivem com menos de 80 reais por mês e o que mais precisa de investimentos, entre todos os estados do país, para solucionar a questão da miséria, aponta um estudo de 2001 da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Diante destes dados, motivos não faltam para explicar o recado das urnas. Francisco de Oliveira, sociólogo e ex-professor da USP, diz que "o carlismo já era". Segundo ele, vários fatores contribuíram para a derrocada do reinado de ACM. "A industrialização, a urbanização e o voto obrigatório fizeram com que o carlismo fosse diminuindo aos poucos. Agora todos votavam, não só os subordinados dele. Houve uma melhoria na captação da voz das pessoas, elas foram ouvidas e tendo mais opções acabaram não vendo somente no carlismo a única forma de governo". Ele rechaça a idéia de que o carlismo tenha capacidade de renovação com o surgimento de novos políticos como o neto do senador, o deputado federal mais votado nas últimas eleições na Bahia, ACM Neto, pré-candidato a prefeito da capital. "Não, e não tem mesmo. ACM Neto tem o poder da altura de sua estatura: um anão. Ele não conseguiria montar a mesmo império do avô e por um motivo simples: o tempo para isso acabou".
Moderno - Considerado por muitos como anacrônico no seu modo de pensar a política, ACM não tardou em descobrir que os meios de comunicação, sobretudo os mais modernos, são aliados importantes na luta pela manutenção do poder. Tratou de arranjar concessões públicas de TVs e rádios, a maioria obtida durante a ditadura militar, quando chegou a ser ministro das comunicações do Brasil.
_ACM é o proprietário da principal emissora de televisão da Bahia: a Tv Bahia, afiliada da Tv Globo no estado, é líder de audiência e tem como presidente o filho do senador, Antônio Carlos Magalhães Junior. Além da TV, o grupo fundado por ACM controla mais de 80 rádios em todo o estado e o segundo jornal de maior circulação, o Correio da Bahia, que durante os governos dos aliados à ACM recebeu pomposas verbas publicitárias.
_À exceção da TV, que hoje, por pressões da Rede Globo, adota uma postura mais próxima dos critérios de imparcialidade jornalística, os veículos de comunicação do grupo serviam apenas, até bem pouco tempo, para publicizar os "feitos" do senador e seus aliados políticos e destacar "deslizes" de seus adversários.
_Em 2001, no emblemático 16 de maio, por exemplo, a TV de ACM entrou em conflito com a Rede Globo por não enviar equipes de reportagens para cobrir a repressão policial contra professores e estudantes da UFBA, que protestavam em favor da cassação do senador ACM. A Rede Globo havia solicitado à sua afiliada reportagens sobre o fato, que tinha obtido grande repercussão em outros veículos. A TV Bahia não enviou nem mesmo imagens, as quais a TV Globo teve de comprar da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Na ocasião, a Rede Globo ameaçou não renovar seu contrato com a Tv Bahia. Desde então, a emissora possui uma relativa autonomia e é poupada de intervenções de viés político.
_Talvez por obra do acaso, maio costuma ser um mês propício não só para casamentos como também para revoluções.
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