segunda-feira, 28 de julho de 2008

"Era uma vez..." e outras historinhas

por Mariana Reis


_Não. O novo filme de Breno Silveira, "Era uma Vez...", não é uma história de amor. Não é nem Romeu nem Julieta. Não é tráfico de drogas. Não é favela. Não é asfalto. Não é Ipanema. Não é Brasil. Não é violência, nem carinho, nem amor. Não é uma história de amor. Pobre de Romeu se provasse do veneno das cidades de verdade, com suas armas de verdade e seus olhares verdadeiramente indiferentes. O filme não é um "Romeu e Julieta contemporâneo com nuances de crítica social e variáveis neoclássicas da beleza na paupérie" ou qualquer bosta pronta feita pela crítica pós-graduada em Londres. O filme é beleza e é defeito, mas assume sua dignidade oferecendo a cara para alguma bofetada mais animada, ou para algum daqueles olhares indiferentes e insossos.

_Quem assistiu ao filme no dia 22 de julho, no IV Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, não tirou os olhos de Dé (Thiago Martins) e Nina (Vitória Frate). Porque era também amor e porque era verdade. Dé é Thiago, menino do morro, menino de verdade. Thiago é Dé de carne e osso. É menino negado para o papel de Dé seis vezes. "Era uma Vez..." é toda essa mesmice que é nossas vidas, esse amorzinho babaca, essa violênciazinha batida, esses pivetinhos que perturbam um bom jogging no calçadão, esse discursinho moral por causa de um baseadinho, tudo muito explorado no cinema! Bom mesmo é o curta-metragem "Areia" de Caetano Gotardo que fala sobre...sobre o que mesmo?Ah, sobre a areia. Pois, que "Areia" recebeu aplausos do supra-sumo do cinema da Bahia. Quanto ao filme de Breno Silveira? Pessoas levantaram antes do final. Não que eu tenha gostado muito do final apocalíptico, mas essa baboseirinha de desigualdade social já tá fora de moda. A tendência mais in da próxima estação é areia. Lindas rodas de discussão sobre areia. Isso sim.

2 comentários:

Ana Camila disse...

Mariana, concordo que essa atitude do "povo de cinema" da Bahia é bem nojenta, mas a denúncia de um discurso e a defesa de um filme têm de funcionar independentemente um da outra. As pessoas vão continuar achando que filme bom é filme a la Lars Von Trier ou Gus van Sant, só pra citar dois, e vão continuar esnobando filmes do Breno Silveira, mas o importante, acho eu, é, antes de ironizar, discutir com argumentos. O "Era Uma Vez" é um filme bacana, é bem dirigido e, apesar de uns problemas de roteiro, sabe administrar muito bem os clichês - sem os quais a história não funcionaria. Parece que as pessoas não conseguem se dar conta disso. Estou no clube dos que defendem o filme e dos que condenam a esnobação da "classe" cinematográfica. Mas o melhor é sempre argumentar. ;)

Germano Viana Xavier disse...

Sim, areia...