Novo Correio da Bahia chega às bancas
por Ana Camila
_Hoje foi o comentário na cidade. Na Facom, quase todo mundo estava com a primeira edição do novo Correio da Bahia, o jornal pro qual todo mundo torce o nariz. A expectativa não era assim tão grande, afinal de contas o Correio tem toda uma história de descredibilidade da qual não vai se livrar fácil assim. Mas convenhamos, a nova versão do periódico é um jornal que se pode ler.
_Já não é mais Correio da Bahia, mas só Correio* (sim, com esse asterisco do lado). Já não é mais no formato tradicional, mas no berliner. Já não é colorido só em algumas páginas, mas em todas. A arte gráfica mudou completamente. E o editorial avisa: trata-se agora de um “jornal plural, democrático e comprometido com o desenvolvimento econômico e social”, e tem como meta atingir um número maior de leitores, dando um “passo importante para consolidar, no meio jornal, a liderança absoluta que já conquistou em TV e rádio”. Modestos como sempre. Agora o Correio diz que publica “o que a Bahia quer saber”.
_Verdade seja dita, o Correio está transformado. Quem disser que ainda vai preferir ler o A Tarde, grandão daquele jeito, fraquinho cada dia, será apenas por fidelidade ideológica. Não é que o Correio esteja, agora, melhor que o A Tarde, mas voltou a estar no páreo. Liderada pelo jornalista Rodrigo Cavalcante, a nova equipe do Correio eliminou algumas editorias, criou outras mais abrangentes e investiu numa linguagem que considera adequada aos “leitores dos tempos modernos”.
As novidades
_A primeira nova editoria é a “24 Horas”, com as últimas e mais relevantes notícias do dia anterior nas categorias Salvador, Brasil, Economia, Mundo, Esporte e Entretenimento. O texto priorizado aqui é o de nota, textos curtos e rápidos de ler, todas as informações escritas de forma curta e grossa, pra não ter desculpa de falta de paciência por parte do leitor (moderno, segundo eles).
_A editoria “Mais” se pretende ser uma parte com reportagens que sugerem a análise dos fatos, mas não é bem isso que acontece. É apenas a editoria na qual as matérias e reportagens continuam a existir, mantendo algum espaço, já que agora o que vale são as notas, textos curtos e notícias rápidas. Boas matérias pertencem a essa editoria, no fim das contas, como a que trata da questão de insegurança na UFBA, assunto que virou agenda na mídia baiana nos últimos dias, e a que fala sobre os roubos que os instrumentistas baianos sofrem também por esses dias. Mais ou menos no mesmo tema está a matéria sobre a degradação do patrimônio de azulejos em Salvador, vítima de vandalismo e descaso. Também esta editoria está dividida nas mesmas categorias de “24 Horas”. E em “Salvador”, quando o tema é eleições municipais, adivinhem só... ACM Neto é o cara, Imbassahy é o homem do mau, João Henrique é rejeitado e Walter Pinheiro talvez um dia tenha atenção de alguém. É, algumas coisas nunca mudam...
Jornalismo cultural é nulo
_“Vida” é o nome da editoria de cultura, comportamento e lazer. Infelizmente esse é o caderno mais mal aproveitado do novo Correio. Suas 14 folhas contam com apenas duas matérias (uma sobre as academias dedicadas apenas ao público feminino e outra sobre os fãs de João Gilberto que acabaram com os ingressos à venda do seu show no TCA em 41 minutos), e o resto é todo dedicado a trivialidades como divulgação dos mais caros réveillons de Salvador (meu deus, estamos em agosto ainda), uma retrospectiva dos 30 anos do Correio (cof cof), um perfil de Murilo Benício (sou só eu ou alguém mais quer saber por que Murilo Benício?) e uma nota sobre a Oi Fashion Music. O resto é o de sempre: programação de cinema, televisão e alguns poucos eventos que acontecem na cidade, em geral aqueles dos quais já ouvimos falar. Nada de comentários sobre livros, shows, filmes, peças ou outros espetáculos, nada de colunas que não a coluna social – com exceção, devo mencionar, da coluninha do Hagamenon Brito, o melhor colunista baiano, em minha opinião, sobre o fenômeno João Gilberto. Trocando em miúdos, o novo Correio em nada contribui para o jornalismo cultural na Bahia, que é tão pobre e mal aproveitado nos jornais impressos do estado. Lástima.
_A surpresa ficou mesmo com a editoria de Esporte. Suas 14 folhas estão repletas de notas e matérias que dão atenção não somente ao futebol baiano, nacional e mundial, mas a outros esportes como o surfe, o ciclismo e o rali. O caderno de Esporte está repleto de informações por todos os lados também em forma de notas na parte superior das páginas, abrangendo o mundo do esporte por toda a Bahia, Brasil e mundo. Organizado e interessante, acaba tornando o caderno menos chato pra quem não está nem aí pra esporte.
Versão online
_O site do Correio também mudou, mas não tem muita coisa por lá. O que mudou mesmo foi o visual, que acompanha a mudança do impresso, mas ainda tem que comer muito feijão com arroz pra ser um portal de referência no jornalismo baiano. Notícias de última hora são publicadas na editoria “24 horas” O destaque vai pro fato de a versão impressa poder ser lida gratuitamente através do site, e do investimento em blogs, uma tendência dos sites dos grandes jornais. O jornalista Hagamenon Brito ganhou um blog (graças a deus), o que despreocupa os fãs da sua agora extinta coluna “Parabólica”, já que parece que o blog manterá a mesma linha. No mais, o site interage com os leitores através de enquetes, fóruns, abusa de vídeos e fotos, permite comentários nas notícias, mas o clima é ainda de experimentações e testes, nada muito expressivo.
_Em tempo: o Correio, nos dias de semana, custa apenas 1 real. Não é por nada, não, mas quem ainda compra jornal vai preferir dar 1 real num jornal com formato berliner, colorido e bonitão a dar 1,75 no velho A Tarde. Dizem que o Correio não está querendo roubar os leitores do seu principal concorrente, mas atrair novos leitores. Quem tá comendo essa história? Resta saber agora como será o Correio do fim de semana, o que ele fará com cadernos bacanas como o Correio Repórter, por exemplo, e que outras surpresas trará. Pro bem do jornalismo baiano, esperamos que sejam surpresas boas.
3 comentários:
Eu fui uma das faconianas que comprou o correio para verificar as mudanças. Concordo que muita coisa boa aconteceu, mas senti o mesmo ranço na herança política... vamos ver nas próximas edições...
Também comprei. E vou ler hoje pra conferir a parte política...
Não senti o meeesmo ranço, mas continuo desconfiado.
A parte cultural realmente deixa a desejar.
nao tive o tempo pra ler direitinho, mas, a partir do que li, tive uma impressao bem parecida com a de voces....
estou na mesma torcida pra que, quem sabe, evoluamos neste sentido.
nossa cidade precisa de "algos" melhores.
nosso cenario cultural entao....
Postar um comentário