terça-feira, 11 de novembro de 2008

Passepartout

Dica de filme: Vicky Cristina Barcelona
por Frederico Fagundes


_Vicky Cristina Barcelona, filme mais recente do diretor Woody Allen, depois de passar apenas em duas sessões no V Festival Cinema de Arte de Salvador, estreou neste final de semana e voltará em cartaz a partir da próxima sexta-feira no Circuito Sala de Arte. A redação da Lupa assistiu ao filme e conta aqui suas impressões.

_O encantamento com a Espanha fez Woody Allen levar um verdadeiro dream team para Barcelona: os premiados Javier Bardem, Penélope Cruz e Scarlett Johansson (soma-se a eles a menos conhecida mas não menos importante Rebecca Hall, que dá vida a Vicky). Mas isto, obviamente, não é tudo: fama e bons autores não necessariamente resultam em um bom filme. Embora divertido, o roteiro não evita idéias prontas tanto sobre o local em que é filmado quanto na construção das personagens.

_Um filme sobre amores na caliente Barcelona. Mas que pecado há nisso? As imagens aproveitam boa parte do charme que a cidade possui. A Europa das férias americanas está ali, despida em sua obviedade e os europeus, ótimos amantes, cultuam, no filme, o amor não convencional, mais ou menos do modo que o (bobo) filme Eurotrip critica. As personagens Vicky e Cristina (Scarlett Johansson) são duas amigas que vão a Barcelona passar o verão. As duas seguem, cada uma, um arquétipo traçado desde o princípio em relação ao amor: Vicky é séria e dedicada à carreira acadêmica, desiludida com aventuras amorosas, busca conforto e uma vida estável; em oposição, Cristina está sempre em busca de experimentações, aberta a novos relacionamentos e é uma artista buscando encontrar seu real talento.

_Isso, porém, não faz o filme ser ruim. Ao contrário, é divertido ver como as personagens oscilam dentro destes arquétipos sem conseguir fugir dele (se não quer saber o que ocorre no fim da trama, pule este parágrafo): Vicky envolve-se e fica apaixonada pelo artista plástico Juan Antonio (Javier Bardem), mas casa-se com um executivo americano, símbolo da estabilidade, e com ele permanece; Cristina vivencia um triângulo amoroso e, ao contrário do que pensava, vê que não é tão libertina assim, e, depois de certo tempo vivendo a três, parte para Paris e continua, provavelmente, a procura de um amor. O sustentáculo da trama é a volta da ex-mulher de Juan Antonio, Maria Helena (Penélope Cruz), artista suicida. A personagem desordena o fluxo que a narrativa parecia tomar e é responsável pela tensão dramática em diversas partes do enredo. Fora do plano da fábula, a direção e a fotografia são competentes e geram belas imagens, embora não se destaquem muito.

_ Não fosse a ambiência espanhola, o filme de não traria nada que o diretor não tenha exposto anteriormente em sua filmografia. A oposição entre a busca do conforto e da felicidade já aparecia em Match Point – O ponto final (2005), bem como a tônica leve e bem-humorada do filme se parece muito com aquela de Scoop – O grande furo (2006). A impressão final é de que Woody Allen, desta vez, como pontua Chico Fireman, quis simplesmente "ser feliz" em Barcelona. O que, afinal, não é pecado nenhum, pelo contrário: rende bons momentos.

_Confira o trailer:

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa influência das aulas de Setaro...

Anônimo disse...

"Vicky é séria e dedicada à carreira acadêmica, desiludida com aventuras amorosas, busca conforto e uma vida estável; em oposição, Cristina está sempre em busca de experimentações, aberta a novos relacionamentos e é uma artista buscando encontrar seu real talento."

Me lembrou muito um livro que li outro dia, Irmãs de Verão, de Judy Blume.