A arte do deslocamento

Foto Fabiane Oiticica e Davi Boaventura
_ Dia quente. Duas pessoas fazem alongamento e se preparam em uma praça de esportes. Calça, blusa e um par de tênis sujos. Eles correm, saltam e se equilibram com as mãos em um pequeno corrimão de 20 cm de largura. Rapidamente, se movimentam como felinos em cima da pequena linha de ferro. Concentrados, buscam a perfeição no silêncio. Pulam e com apenas um pé tocam numa mesa de pedra ganhando impulso. Os músculos se contraem e, de repente, já estão em um banco quase dois metros à frente. O que pode parecer uma brincadeira de pula-pula é, na verdade, um treino físico do Parkour, disciplina que busca a superação de obstáculos urbanos e naturais de maneira mais rápida e eficiente possível.

_No entanto, a difusão da prática aconteceu, principalmente, a partir do documentário Jump London, de Sebastien Foucan. Amigo de Belle, Foucan desenvolveu uma vertente da disciplina, o free-running. "O Parkour visa eficiência dos movimentos com o mínimo de energia gasta. o Free-running cultua a beleza, independente do gasto de energia", explica Eduardo Rocha, Traceur - nome dado ao praticante - há um ano e meio.
_No Brasil, o Parkour chegou por volta de 2001 e ganhou popularidade há cerca de dois anos. Não existem escolas ou cursos sobre a disciplina. Os conhecimentos são passados de um traceur para outro ou através de informações contidas em sites e blogs na internet. "O crescimento se encontra um tanto desordenado e a boa informação não é muito acessível", afirma Eduardo. "Os veteranos se tornam o canal de disseminação da filosofia e da boa prática do Parkour", completa.
_A disciplina pode ser realizada em qualquer lugar. Geralmente, os grupos ou clãs, como se denominam, buscam locais que ofereçam um grande número de obstáculos e possibilitem o treinamento das mais variadas técnicas, que podem ser úteis em situações de fuga ou evacuações. Em Salvador, os traceurs podem ser encontrados em lugares como o Parque Costa Azul, o Parque da Cidade, a Praça do Jardim Baiano e o Dique do Tororó.
_A disciplina pode ser realizada em qualquer lugar. Geralmente, os grupos ou clãs, como se denominam, buscam locais que ofereçam um grande número de obstáculos e possibilitem o treinamento das mais variadas técnicas, que podem ser úteis em situações de fuga ou evacuações. Em Salvador, os traceurs podem ser encontrados em lugares como o Parque Costa Azul, o Parque da Cidade, a Praça do Jardim Baiano e o Dique do Tororó.

_Embora o movimento venha sendo divulgado pela mídia e os seus seguidores busquem mostrar as suas intenções e filosofia, alguns praticantes afirmam que a sociedade ainda não compreende bem esse tipo de atividade. Ainda existe resistência em relação à prática do Parkour. Em alguns casos, como em exercícios que utilizam os galhos de árvores para o deslocamento, os seguranças dos parques e policiais impedem os treinos. "O traceur é visto como vândalo por algumas pessoas", reclama Thiago Xavier, praticante há dois anos.
_Os administradores e proprietários dos espaços usados pelos traceurs se defendem. "Eles podem ficar a vontade desde que não danifiquem o patrimônio", garante Benedito Araújo, administrador da área verde do Dique do Tororó. "Às vezes, uma árvore não significa tanto para as pssoas, mas para o parque significa muito", completa. Em situações como esta, os praticantes apontam o diálogo como a solução, mas a prioridade é a preservação do ambiente.

_Como em algumas práticas esportivas, a disciplina também apresenta riscos. "Toda e qualquer atividade de impacto tem seu lado negativo", explica o fisioterapeuta e professor Anderson Delano. "É necessário aquecimento e alongamento. Não se pode saltar grandes distâncias de uma hora para outra", alerta. Anderson adverte sobre o exercício para crianças e adolescentes, pois eles ainda não têm a estrutura óssea e a cartilagem totalmente formada, o que pode prejudicar o crescimento.
_O Parkour não incentiva o espírito competitivo. Para tentar evitar polêmicas, a Associação Brasileira de Parkour, ABPK (http://www.blogger.com/www.abpk.org.br), vem organizando a campanha nacional Parkour, livre de competições - inspirada na camapanha internacional Pro Parkour, Against Competition, apoiada por David Belle. "Quem leva o Parkour a sério não está em busca de ser radical ou se exibir", assinala Thiago Xavier.

_Segundo David Belle, o Parkour é uma arte urbana e contemporânea de viver. Porém algumas opiniões são contraditórias. "Para mim, é um esporte. Tem sua dinâmica própria e acaba sendo uma convergência de diversas modalidades", aponta Caio Matheus, estudante universitário. "Eu não considero um esporte, pois não existem competições", rebate Thiago Xavier. "Quem faz Parkour evita a hierarquização entre os seus praticantes, treinamos para nós mesmos", completa.

Filmes que mostram o Parkour.
- B13 - Os gangs do bairro 13. P. Morel. França, 2004.
- Jump Britain. M. Christie. Grã-Bretanha, 2005.
-Yamakasy. A. Zeitoun, J. Seri. Bélgica, 2001.
- B13 - Os gangs do bairro 13. P. Morel. França, 2004.
- Jump Britain. M. Christie. Grã-Bretanha, 2005.
-Yamakasy. A. Zeitoun, J. Seri. Bélgica, 2001.
- Os filhos do vento. J. Seri. França, 2004.
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