sábado, 1 de março de 2008

Le Parkour
A arte do deslocamento

Texto Davi Boaventura e Marcel Ayres
Foto Fabiane Oiticica e Davi Boaventura

_ Dia quente. Duas pessoas fazem alongamento e se preparam em uma praça de esportes. Calça, blusa e um par de tênis sujos. Eles correm, saltam e se equilibram com as mãos em um pequeno corrimão de 20 cm de largura. Rapidamente, se movimentam como felinos em cima da pequena linha de ferro. Concentrados, buscam a perfeição no silêncio. Pulam e com apenas um pé tocam numa mesa de pedra ganhando impulso. Os músculos se contraem e, de repente, já estão em um banco quase dois metros à frente. O que pode parecer uma brincadeira de pula-pula é, na verdade, um treino físico do Parkour, disciplina que busca a superação de obstáculos urbanos e naturais de maneira mais rápida e eficiente possível.

_Criado na década de 80 pelo francês, David Belle, Le Parkour - o percurso - foi inspirado nas técnicas de salvamento do Corpo de Bombeiros francês e influenciado pelo Método Natural de Georges Hérbert, um programa de desenvolvimento físico baseado em exercícios que dispensam aparelhos, que se tornou bastante utilizado em treinamentos militares.

_No entanto, a difusão da prática aconteceu, principalmente, a partir do documentário Jump London, de Sebastien Foucan. Amigo de Belle, Foucan desenvolveu uma vertente da disciplina, o free-running. "O Parkour visa eficiência dos movimentos com o mínimo de energia gasta. o Free-running cultua a beleza, independente do gasto de energia", explica Eduardo Rocha, Traceur - nome dado ao praticante - há um ano e meio.

_No Brasil, o Parkour chegou por volta de 2001 e ganhou popularidade há cerca de dois anos. Não existem escolas ou cursos sobre a disciplina. Os conhecimentos são passados de um traceur para outro ou através de informações contidas em sites e blogs na internet. "O crescimento se encontra um tanto desordenado e a boa informação não é muito acessível", afirma Eduardo. "Os veteranos se tornam o canal de disseminação da filosofia e da boa prática do Parkour", completa.

_A disciplina pode ser realizada em qualquer lugar. Geralmente, os grupos ou clãs, como se denominam, buscam locais que ofereçam um grande número de obstáculos e possibilitem o treinamento das mais variadas técnicas, que podem ser úteis em situações de fuga ou evacuações. Em Salvador, os traceurs podem ser encontrados em lugares como o Parque Costa Azul, o Parque da Cidade, a Praça do Jardim Baiano e o Dique do Tororó.

De galho em galho

_Embora o movimento venha sendo divulgado pela mídia e os seus seguidores busquem mostrar as suas intenções e filosofia, alguns praticantes afirmam que a sociedade ainda não compreende bem esse tipo de atividade. Ainda existe resistência em relação à prática do Parkour. Em alguns casos, como em exercícios que utilizam os galhos de árvores para o deslocamento, os seguranças dos parques e policiais impedem os treinos. "O traceur é visto como vândalo por algumas pessoas", reclama Thiago Xavier, praticante há dois anos.

_Os administradores e proprietários dos espaços usados pelos traceurs se defendem. "Eles podem ficar a vontade desde que não danifiquem o patrimônio", garante Benedito Araújo, administrador da área verde do Dique do Tororó. "Às vezes, uma árvore não significa tanto para as pssoas, mas para o parque significa muito", completa. Em situações como esta, os praticantes apontam o diálogo como a solução, mas a prioridade é a preservação do ambiente.


_Um dos principais benefícios apontados por quem faz Parkour é o condicionamento físico. "Você precisa ser forte para conseguir realizar os exercícios", aponta Thiago. Segundo ele, cada movimento pode trabalhar ao mesmo tempo músculos de várias partes do corpo, além de fortalecer os ligamentos. "Se a pessoa vê na televisão e acha que é só pular prédios, vai se dar mal", afirma.

_Como em algumas práticas esportivas, a disciplina também apresenta riscos. "Toda e qualquer atividade de impacto tem seu lado negativo", explica o fisioterapeuta e professor Anderson Delano. "É necessário aquecimento e alongamento. Não se pode saltar grandes distâncias de uma hora para outra", alerta. Anderson adverte sobre o exercício para crianças e adolescentes, pois eles ainda não têm a estrutura óssea e a cartilagem totalmente formada, o que pode prejudicar o crescimento.

_O Parkour não incentiva o espírito competitivo. Para tentar evitar polêmicas, a Associação Brasileira de Parkour, ABPK (http://www.blogger.com/www.abpk.org.br), vem organizando a campanha nacional Parkour, livre de competições - inspirada na camapanha internacional Pro Parkour, Against Competition, apoiada por David Belle. "Quem leva o Parkour a sério não está em busca de ser radical ou se exibir", assinala Thiago Xavier.


Esporte, lazer ou filosofia?

_Segundo David Belle, o Parkour é uma arte urbana e contemporânea de viver. Porém algumas opiniões são contraditórias. "Para mim, é um esporte. Tem sua dinâmica própria e acaba sendo uma convergência de diversas modalidades", aponta Caio Matheus, estudante universitário. "Eu não considero um esporte, pois não existem competições", rebate Thiago Xavier. "Quem faz Parkour evita a hierarquização entre os seus praticantes, treinamos para nós mesmos", completa.


Filmes que mostram o Parkour.

- B13 - Os gangs do bairro 13.
P. Morel. França, 2004.

- Jump Britain.
M. Christie. Grã-Bretanha, 2005.

-Yamakasy.
A. Zeitoun, J. Seri. Bélgica, 2001.

-
Os filhos do vento. J. Seri. França, 2004.

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